Em sua 2ª edição, o MAPA – Mostra de Arte Pública desembarcou em Itabira, Minas Gerais, com cinco novos murais de artistas brasileiros com estéticas e linguagens diversas
Com instalações da portuguesa Wasted Rita e do mineiro Thiago Mazza, o evento tem como carro-chefe a pintura de empenas e muros da cidade, processo que pode ser visto de perto pelos moradores e visitantes da cidade. Com o tema Sou do Muro, Sou Minas Gerais, o festival promoveu, entre os dias 9 e 13 de outubro, exposição de arte urbana, instalações, shows, oficinas de artes visuais, entre outras atrações, reunindo um time de grandes artistas visuais do Brasil e do mundo, incluindo Juliana Gontijo (MG), Wes Gama (GO), Hanna Lucatelli (SP), e os artistas da cena Itabirana João Vieira e Snake.
JULIANA GONTIJO
A artista visual mineira Juliana Gontijo desenvolve projetos relacionados à ecologia, geografia, e conhecimentos populares, utiliza-se da imagem e da palavra em busca de construções híbridas, que narrem histórias fantásticas tensionadas com a realidade.
Para o MAPA, a pintura escolhida, Refloreste-se (jacarandá do campo), faz parte de uma série que a artista tem desenvolvido e apresenta algumas espécies de plantas que são classificadas como “pioneiras”. As plantas pioneiras são as primeiras a crescerem em áreas de mata em recuperação. Nas áreas desmatadas e queimadas, espécies como o jacarandá do campo crescem rapidamente e desprendem, do alto de suas existências, as folhas, flores, sementes e frutos que alimentarão o solo e servirão de adubo para as próximas gerações.
“Como nós, mulheres e mães, as pioneiras miram o alto e crescem carregando no seu próprio corpo o sonho de, em um futuro próximo, ver a mata reflorescer, ver o mundo reflorestar. A floresta é por essência o lugar da abundância e da diversidade, nesse sentido refloreste-se é meu grande desejo para a humanidade em tempos de mudanças climáticas e civilizatórias”, destaca a artista, que também é mãe do Benedito, de 6 meses, que também veio para o festival.
WES GAMA
Formado pelas ruas, outro artista convidado do festival é o goiano Wes Gama. Nos últimos anos o artista tem executado obras de grande escala em diversas cidades do Brasil, seja para comunidades, festivais e marcas, sendo considerado uma das grandes referências da arte urbana nacional. Destaque como ilustrador, já realizou projetos como Amazon Alarm (2020) para o Greenpeace Brasil. Suas obras misturam tecnologia e ancestralidade, compondo o conceito “Caipira Futurista”.
Para o MAPA Festival, o artista prepara a pintura Plantando água, de 38 metros de altura e mais de 300 m², que traz a imagem de uma criança inspirada em sua filha caçula Canindé, de 6 anos, que acredita ter o poder das plantas e conversar com os animais. A arte traz elementos marcante de suas composições, como o uso de cores saturadas, pássaros pintados sobre os olhos e a brincadeira com as formas, escalas e proporções, que refletem sobre a relação humano-território-natureza, questiona as relações raciais e ambientais e mergulha na vivência entre ancestralidade e o futuro.
O artista explica que o mural traz uma reflexão sobre nossa visão de “natureza” como recurso, sendo que ele acredita que estamos mais conectados com a natureza do que imaginamos. “É necessário enxergar tudo ao nosso redor com os olhos da natureza, como se ela estivesse nos observando, como estamos atuando nesse mundo e o quão agressivo é o nosso comportamento com nossa fonte de vida! Plantemos água e assim conseguimos enxergar um futuro. Futuro no sentido de continuidade, de possibilidades. Acredito que somos parte de toda uma rede orgânica que está inteiramente conectada, mas perdemos essa sensibilidade quando nos afastamos da natureza, deixamos de observar os pássaros, deixamos de tomar banho de rio pra ter água “tratada” para lavar nosso corpo e alma”, explica Wes Gama.
HANNA LUCATELLI
O mural, localizado na praça Praça Mário Carvalho Azevedo de Barros, no bairro Quatorze de Fevereiro, que está sendo reformada, recebe o mural Cerca de flores, da artista Hanna Lucatelli, que homenageia a Estação de Trem de Itabira. Muralista, mãe e filha de São Paulo, Hanna Lucatelli traduz a força do feminino nas paredes das cidades, onde suas pinturas se espalham como oração e nos convida a olhar pra dentro, a lembrar que há uma alma que pulsa, tanto em nós quanto na cidade que se esqueceu de sentir.
Nos murais e nas telas Hanna invoca a figura da mulher como um canto antigo, mas novo, que pede espaço, que se faz sagrado. Ela não pinta mulheres subjugadas pelo tempo ou pelo olhar alheio; suas figuras são altivas uma força que não se dobra. Para criar seu mural no MAPA, com 162 m², a artista resgatou a história familiar, a partir de relatos e fotos reveladas por sua avó, que saiu do interior para a cidade grande, criando uma realidade na qual sua avó permaneceu em seu território.”A imagem foi criada a partir de relatos da minha avó de como era a avó dela e sua casa, onde passou parte da infância em Minas antes de ir para São Paulo”, destaca Lucatelli. “Vim pra Itabira e reconheci ela, minha avó, e nos reconheci também. Em cada comida, gesto, forma… começando por todas cercas de bambu com flores que vi na estrada até aqui. Hoje olho no profundo e vejo raizes mais fortes e extensas. Assim sei que posso crescer mais alto sobre bases sólidas. Memórias são heranças preciosas”, ressaltou a artista paulista.
No mural, ela mistura suas memórias pessoais e familiares com as da antiga Estação de Trem de Itabira. E para contar estas histórias, de pessoas que foram e que ficaram, Hanna utiliza uma técnica em que mistura também tinta e terra, coletada no chão onde hoje é construída a praça do bairro.
CONVOCATÓRIA
Todo ano, o MAPA Festival abre uma convocatória para que artistas que compõem a cena artística Itabirana. Neste ano foram selecionado os artistas João Vieira e Snake, os dois artistas ocupam o muro da Escola Estadual Mestre Zeca Amâncio (EEMZA), em uma área de 20 m² cada.
Nascido em Itabira, João Vieira se formou em Cerâmica pela Escola Guignard – UEMG. Atualmente, está de volta à sua cidade natal, onde vem desenvolvendo a criação de paisagens híbridas a partir das técnicas do desenho e da pintura. Para o festival, ele preparou a obra Discussões Itabiranas que resgata uma paisagem que hoje não existe mais na cidade, retratando a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, o Pico do Cauê. “Um espaço inventado, provocado e desejado. Um trabalho que surgiu da tinta acrílica e virou mural. Feliz demais de ter participado desse festival que veio pra ficar em Itabira”, destacou o artista.
Natural de Belo Horizonte, Snake mudou-se para Itabira onde atua como grafiteiro, tatuador, pintor e educador. Seu trabalho mistura os estilos clássicos do graffiti com o realismo e a arte abstrata. Para o MAPA, ele preparou a obra “Conto do imaginário”, em que abre uma janela a partir da imaginação para o futuro.
WASTED RITA
A artista portuguesa Wasted Rita reconhecida internacionalmente, desde 2012, por sua visão irônica e sarcástica também esteve presente no MAPA Festival. Seu trabalho, focado em “text-based art”, destaca-se por frases provocativas em preto e branco e a utilização do humor. A usa instalação na cidade trouxe a obra “Nem todos os morros vão dar ao céu”, em neon, no Edifício Empresarial Senhorinha Andrade, em que a artista faz uma crítica social à ideia da meritocracia. Além da instalação, a artista portuguesa que também realizou uma oficina de postais na cidade e deixou um mural espontâneo e humorado em uma homenagem a cidade com Sem shopping mas com fofoqueira raiz.
Artistas:
Wes Gama (GO)
Local da pintura: Edifício Monte Carlo (Av. João Pinheiro, 540 – Centro)
Juliana Gontijo (MG)
Local da pintura: Empena Edifício Belcenter (Av. João Pinheiro, 128 – Centro)
Hanna Lucatelli (SP)
Local da pintura: Praça Mário de Carvalho Azevedo, 75
Artistas convocatória – João Vieira e Snake (Itabira | MG)
Local da pintura: EEMZA (rua Irmãos D’caux, 100 – Centro)
Wasted Rita (PT)
Local da pintura: Av. das Rosas, 1276