Em 6 de janeiro, o centro de arte Darb 1718, localizado no Cairo Antigo, foi completamente demolido como parte do alargamento de uma via expressa. Composta por um edifício expositivo, que acolheu também espetáculos, e duas oficinas de formação em cerâmica e artesanato, a instituição de quinze anos foi arrasada “sem aviso prévio ou compensação”, anunciaram os gestores do local num comunicado publicado no Facebook.
“Tudo lá dentro foi destruído”, incluindo “obras pertencentes a 150 artistas estrangeiros no valor de milhões”, lamentou o artista e ativista Moataz Nasreddine, fundador do local. “Como podemos apresentar um candidato à UNESCO quando odiamos o nosso patrimônio?”, questionou, referindo-se à candidatura do ex-ministro do Turismo e Antiguidades Khaled El-Enany ao cargo de diretor-geral da UNESCO. “Odiamos nossa história e nosso Cairo Antigo, queremos uma cidade que seja só estradas, asfalto, pontes.”
A ameaça de destruição do local vinha se aproximando há muitos meses. Em julho de 2023, Moataz Nasreddine lançou uma petição que reuniu 16 mil apoiadores e, em setembro, uma manifestação para protestar contra o projeto. O fundador do Darb 1718 afirma ter obtido uma promessa do prefeito do distrito de iniciar “negociações” sobre este assunto “após a eleição presidencial”. Mas quando o presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, foi reeleito, em 12 de dezembro, ele esperou apenas um mês para lançar as escavadeiras.
Esta não é a primeira destruição de patrimônios culturais do Cairo desde que o ex-militar chegou ao poder no Egito, derrubando o islamita Mohamed Morsi em 2013: desde 2020, milhares de túmulos na Cidade dos Mortos, a necrópole mais antiga do mundo muçulmano listada como Patrimônio Mundial da UNESCO, foram destruídos na capital em nome da “modernização” e da retomada econômica do país.
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