Histórias de recomeços. As peças de destaque no espaço de Hugo França na 15ª edição da SP-Arte reúnem muitos anos de vida, outros tantos de esquecimento nas florestas, e uma segunda chance de longevidade, possibilitada pelo seu conhecido trabalho de trazer a madeira de volta ao convívio das pessoas, com seu papel ressignificado.
Foi a partir de uma busca por raízes de pequi-vinagreiro, matéria-prima já em extinção e presente na maior parte de suas criações, que Hugo França e sua equipe encontraram, ao acaso, uma raiz de pau-brasil. Escondida no solo arenoso de uma vegetação de Muçununga, a rara madeira, símbolo da primeira prática comercial do Brasil-Colônia, ganhou nova vida em forma de escultura, tendo seu momento de reestreia escolhido a dedo: o maior evento de arte e design da América Latina.
Ao lado da escultura, outras duas peças se destacam no espaço do Atelier Hugo França, não pelo tamanho, mas pela história que carregam: as cadeiras Maitá e Marimbá, feitas a partir de uma única canoa de pequi-vinagreiro, produzida entre 100 e 150 anos atrás, calcula o designer. Encontrada na roça, na casa de uma família Pataxó, de tão velha, já não era mais usada para navegar, mas sim para guardar aipim na farinheira da família. Hugo a comprou há 15 anos e, agora, a apresenta em primeira mão na SP-Arte.
“As cadeiras feitas de canoa remetem ao começo de tudo e também a um marco da minha carreira. Minha produção começou em Trancoso, justamente pela convivência com os índios Pataxó, que faziam suas próprias canoas e ferramentas com a madeira da floresta. Se tornaram símbolo do meu trabalho e também uma das peças mais valorizadas nos leilões internacionais de que participo”, completa Hugo França.
Mais de 10 peças completam com grandiosidade o espaço de 60m2, localizado no setor de design da SP-Arte 2019.