Novas evidências reacenderam as dúvidas sobre a autenticidade de Sansão e Dalila, exposto na National Gallery e atribuído a Peter Paul Rubens. A historiadora de arte Euphrosyne Doxiadis sugere que a obra, adquirida há 45 anos por um valor recorde, seria uma cópia do século XX de uma pintura perdida do mestre flamengo do século XVII.
Segundo o jornal britânico The Guardian, Doxiadis argumenta que as pinceladas características de Rubens não estão presentes na pintura e que erros técnicos, como a ausência dos dedos dos pés de Sansão, não seriam aceitáveis no século XVII. Além disso, novas informações colocam em xeque a origem da obra: um documento encontrado revela que a pintura foi comprada em 1929 por um negociante alemão de um restaurador chamado Gaston Lévy, um brasileiro ligado ao círculo do artista espanhol Joaquín Sorolla y Bastida, em Madri. A relação de Lévy com a restauração de obras antigas levanta suspeitas de que ele possa ter desempenhado um papel na possível fraude.
A historiadora sugere que a pintura pode ter sido feita por alunos de Sorolla no início do século XX, como parte de um exercício acadêmico de cópia de mestres antigos. “Minha hipótese é que provavelmente é uma cópia legítima feita por Lévy e outros pintores sob a supervisão de Sorolla no início do século XX. A ausência dos dedos agora faz sentido: quando estudantes copiam um mestre antigo, há uma regra não escrita de que devem omitir algo para não parecerem fraudulentos”, explicou Doxiadis. Ela sugere que Lévy e seus colegas assumiram o desafio de recriar o quadro perdido, baseando-se em cópias contemporâneas.
Outro fator que levanta suspeitas é que a pintura foi originalmente vendida como um painel de madeira, mas, segundo o banqueiro e conhecedor de arte Jan Bosselaers, ela só foi colada a uma placa de madeira depois de sua venda em 1980, contrariando a versão oficial da galeria.
A National Gallery não comentaou as novas alegações. No entanto, Doxiadis afirma que até mesmo o filósofo Sir Isaiah Berlin, ex-curador da galeria, já demonstrava ceticismo sobre a autenticidade da obra e acreditava que “a verdade sempre vem à tona”.