Agnès Varda, Luiz Braga e outros. Veja programação 2025 do IMS

Zanele Muholi, artista faz parte da programação 2025 no IMS. Xiniwe em Cassilhaus, Carolina do Norte, 2016 © Zanele Muholi, cortesia Yancey Richardson.

Em 2025, Instituto Moreira Salles apresenta exposições de Zanele Muholi, Gordon Parks, Agnès Varda, Luiz Braga e do povo Paiter Suruí, na sede de São Paulo, e de Laudelina de Campos Mello, em Poços de Caldas

O Instituto Moreira Salles exibirá, em sua sede de São Paulo, em 2025, exposições de figuras seminais da fotografia mundial: Zanele Muholi (1972), um dos nomes mais aclamados da fotografia contemporânea, cuja obra documenta a beleza e o ativismo negro e queer da África do Sul; o norte-americano Gordon Parks (1912-2006), que documentou o cotidiano das pessoas negras durante o regime de segregação social e o movimento organizado de luta contra o racismo nos Estados Unidos; Agnès Varda (1928-2019), cineasta belgo-francesa que iniciou sua carreira no campo da imagem como fotógrafa; e o paraense Luiz Braga (1956), autor de um vasto material em que revela a diversidade do território amazônico e de seus habitantes. Além delas, o IMS apresentará uma exposição de fotografias produzidas pelo povo indígena Paiter Suruí, de Rondônia, mostrando sua trajetória e seu cotidiano por meio de imagens históricas e contemporâneas, organizadas pelo Coletivo Lakapoy.

Reaberto em 2024 depois de passar por obras de restauro e modernização, o IMS Poços recebe em março uma exposição inédita sobre Laudelina de Campos Mello (1904-1991). Sindicalista nascida em Poços de Caldas, seu ativismo na luta pelo reconhecimento e pela valorização do trabalho doméstico e pela conquista de direitos para a categoria repercutiu em todo o país. No segundo semestre, a mostra Ocupação Eduardo Coutinho, realizada pelo Itaú Cultural em São Paulo e já exibida também no IMS Rio, chega ao IMS Poços, apresentando a trajetória do documentarista, sua obra e seu processo de criação.

O IMS Rio permanece fechado para obras de restauro e reforma de sua sede na Gávea. Enquanto isso, o atendimento a pesquisadores segue sendo realizado na sede provisória da rua do Russel, na Glória. As parcerias na cidade, iniciadas no ano passado, se mantêm. Inaugurada em novembro de 2024 no Paço Imperial, a exposição Entre nós: dez anos da Bolsa ZUM/IMS continua em cartaz até 2 de fevereiro na instituição. A mostra reúne obras de 20 artistas e coletivos contemplados pela bolsa de fomento à produção contemporânea criada em 2013 pelo IMS.

O IMS também fez uma parceria com a Pinacoteca do Ceará, que acaba de abrir a exposição Que país é este? A câmera de Jorge Bodanzky durante a ditadura brasileira, 1964-1985, em cartaz até 13 de abril de 2025. E, no exterior, continua a itinerância de Daido Moriyama: A Retrospective. A exposição realizada pelo IMS está em cartaz até 23 de fevereiro no Photo Elysée, em Lausanne, na Suíça. Exibida pela primeira vez no IMS Paulista, em 2022, a mostra já passou por Berlim, Londres e Helsinque.

Confira abaixo as sinopses de exposições previstas para 2025:

São Paulo (SP)

IMS Paulista

Zanele Muholi (título provisório)
De 22 de fevereiro a 15 de junho de 2025
Exposição retrospectiva de Zanele Muholi (1972, Umlazi, África do Sul), um dos nomes mais aclamados da fotografia contemporânea. Desde o início dos anos 2000, Muholi, que se define como ativista visual, documenta a vida da comunidade negra LGBTQIAPN+ na África do Sul e no mundo. Com curadoria de Daniele Queiroz, Thyago Nogueira e Ana Vitório (curadora-adjunta), a exposição reunirá suas principais séries fotográficas, especialmente Faces and Phases (extenso mapeamento de pessoas lésbicas, bissexuais, não binárias e transmasculinas feito desde 2006, hoje com centenas de fotos), Somnyama Ngomyama (autorretratos que tratam de temas como racismo, trabalho, eurocentrismo e sexualidade), Brave Beauties e trabalhos inéditos produzidos no Brasil.

Luiz Braga – Arquipélago imaginário
De 12 de abril a 31 de agosto de 2025
A exposição com curadoria de Bitu Cassundé e assistência de Maria Luiza Meneses apresenta uma seleção com cerca de 250 fotografias realizadas ao longo de 50 anos de trajetória do fotógrafo paraense. A partir do arquivo do artista, o recorte não linear de imagens delineia a dimensão do imaginário sensível e ficcional de Luiz Braga (Belém, PA, 1956) sobre o território amazônico, principal interesse em sua produção. O título da mostra se refere ao chamado arquipélago do Marajó, maior arquipélago fluviomarítimo do mundo, formado por mais de 2.500 ilhas no estado do Pará, que inclui a capital Belém e a Ilha do Marajó, lugares registrados por Braga. Ao escolher a terra natal como campo poético de investigação de imagem e vida, ao longo das décadas o fotógrafo elabora operações relacionais de aproximação e convívio com as pessoas e lugares registrados. O resultado é uma produção intensa, carregada de intimidade e cuidado com os sujeitos e ambientes, que compreende aspectos de uma Amazônia múltipla.

Gente de verdade: uma história visual do povo Paiter Suruí (título provisório)
De 26 de julho a 2 de novembro de 2025
A exposição narra a trajetória e o cotidiano do povo indígena Paiter Suruí, de Rondônia, por meio de imagens históricas e contemporâneas produzidas em sua maioria pelos próprios Paiter Suruí e organizadas pelo Coletivo Lakapoy. Contactados oficialmente pela Funai em 1969, os Paiter Suruí resistiram a invasões, doenças e omissão governamental até obterem a homologação de seu território, em 1983. Com um modo de vida que respeita a floresta amazônica, mas profundamente transformado desde o contato com a sociedade não indígena, os Paiter Suruí seguem lutando para garantir a integridade de seu território e proteger seu povo da invasão de terras, da mineração ilegal, do extrativismo predatório e da pecuária. A exposição Gente de verdade reunirá fotografias feitas pelos Paiter Suruí desde que as primeiras câmeras chegaram ao território nos anos 1970, pelas mãos de missionários evangélicos. Com interesse pelas imagens, os próprios Paiter Suruí logo começaram a fotografar seu dia a dia, incluindo os novos ritos sociais e religiosos, como aniversários, casamentos e batizados. Esse arquivo fotográfico, disperso em acervos familiares nas aldeias, corria o risco de desaparecer em razão da conservação precária, até ser reunido e digitalizado pela primeira vez pelo Coletivo Lakapoy, criado em 2022 por jovens Paiter Suruí e que reúne hoje indígenas e não indígenas. A exposição, que tem curadoria de Thyago Nogueira e Txai Suruí, e Lahayda Mamani Poma Dreger como curadora assistente, também incluirá fotografias recentes feitas pelos Paiter Suruí com câmeras descartáveis e retratos tirados por Ubiratan Suruí, o primeiro fotógrafo profissional do povo, além de vídeos de influencers, entrevistas e depoimentos que permitam narrar em novos termos a história e a vida contemporânea dos Paiter Suruí.

Gordon Parks: América
De 4 de outubro de 2025 a 1 de março de 2026
Com curadoria de Janaina Damasceno e Iliriana Rodrigues, a exposição reúne cerca de 200 imagens, constituindo-se na maior retrospectiva de Gordon Parks (1912-2006) na América Latina. Nascido em Fort Scott, Kansas, Parks sofreu na carne a experiência de ser uma pessoa negra durante o regime da segregação racial nos Estados Unidos. Sua vasta obra documenta desde a vida cotidiana de pessoas negras em estados segregados até a luta organizada do movimento negro norte-americano contra a segregação e o racismo. Na série Fort Scott, ele empreende um retorno a sua terra natal, onde conversa com ex-colegas de classe; em outra série, mostra a importância da Igreja Negra nos Estados Unidos como lugar de construção de uma comunidade. Suas séries biográficas, como a de Malcom X ou Muhammad Ali, oferecem uma visão profunda das trajetórias pessoais de algumas das principais personalidades negras do século XX. Desde que chegou em Nova York, na década de 1940, Parks, registrou diversas vezes o Harlem, o bairro negro mais famoso dos Estados Unidos, em imagens que entraram para a história da fotografia. Além de fotógrafo, Parks foi músico e cineasta. É dele a direção de Shaft (1971), o principal filme da Blaxplotation, gênero cinematográfico que reivindica o protagonismo negro no cinema norte-americano. Até hoje o trabalho de Parks influencia artistas das mais diversas áreas, como o rapper Kendrick Lamar em seu videoclipe Element, ou os fotógrafos Mickalene Thomas, LaToya Ruby Frazier, Ming Smith, Zanele Muholi, Jamel Shabazz e Devin Allen. A luz e a cor do trabalho de Parks inspiraram também a fotografia de Walter Firmo e séries de canais de streaming, como Lovecraft Country. A exposição é um reencontro com a história negra americana, mas também com um dos mais importantes fotógrafos do século XX, aquele que melhor documentou como a dignidade, o autocuidado e a beleza se tornaram formas de resistir a um sistema que desejava o aniquilamento de pessoas negras. A mostra é feita em parceria com a Fundação Gordon Parks.

Agnès Varda fotógrafa
De 29 de novembro de 2025 a 12 de abril de 2026
A exposição Agnès Varda fotógrafa apresentará pela primeira vez no Brasil um panorama da produção fotográfica da cineasta belga radicada na França Agnès Varda (1928-2019). Com curadoria de João Fernandes e Rosalie Varda, filha da fotógrafa, e assistência de curadoria de Horrana de Kássia Santoz, a mostra reunirá uma seleção de cerca de 200 imagens que retratam o olhar solidário e curioso de Varda, evidenciado em suas séries de fotografias produzidas em viagens pelo mundo, de Portugal à China, de Cuba à Califórnia. Suas fotografias revelam compromisso com uma visão emancipatória das pessoas e do mundo, no contexto das mudanças históricas ocorridas na segunda metade do século XX, destacando a identidade e o papel das mulheres, numa profunda empatia com as suas vidas e lutas. A exposição cruzará a fotografia de Varda com trechos dos seus filmes onde a fotografia é matéria ou tema do seu trabalho cinematográfico.

Poços de Caldas (MG)

IMS Poços

Dignidade e luta: Laudelina de Campos Mello
De 22 de março a 14 de setembro de 2025
A exposição apresenta a trajetória, o pensamento e a militância de Laudelina de Campos Mello (Poços de Caldas/MG, 1904 – Campinas/SP, 1991), sindicalista e importante ativista na luta pelo reconhecimento e valorização do trabalho doméstico e pela conquista de direitos para a categoria, também atuante na luta antirrracista. Reconhecida como a fundadora do primeiro sindicato das empregadas domésticas no país, Laudelina dedicou-se a combater a exploração e os abusos contra essas profissionais e atuou também para que as trabalhadoras domésticas do país tivessem não apenas seus direitos garantidos, como gozassem de uma vida digna. Por meio de fotografias, documentos e objetos históricos, em diálogo com as artes visuais e o audiovisual, como obras de Rosana Paulino, Dayane Tropicaos e Kika Carvalho, a mostra conta a história de vida de Laudelina, relacionando-a com a questão do trabalho doméstico no Brasil – uma das marcas indeléveis da escravidão –, assim como questões referentes ao sindicalismo, ao associativismo negro, a questões político-culturais e o direito ao descanso. A curadoria é de Raquel Barreto e Renata Sampaio, com assistência de curadoria de Phelipe Rezende.

Ocupação Eduardo Coutinho
De 18 de outubro de 2025 a 1 de fevereiro de 2026
A exposição apresenta a trajetória do cineasta Eduardo Coutinho, sua obra e seu processo de criação. Um rico material audiovisual somado a documentos, objetos e fotografias de seu acervo pessoal e de amigos e colegas de profissão ajudam a conhecer e relembrar o cineasta. Concebida e apresentada pelo Itaú Cultural em São Paulo, a mostra com curadoria de Carlos Alberto Mattos esteve em cartaz no IMS Rio, e agora chega a Poços de Caldas, onde ganha uma nova expografia e uma programação de atividades paralelas.

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