13ª Bienal do Mercosul reflete sobre Trauma, Sonho e Fuga

A 13ª Bienal do Mercosul reflete sobre experiências coletivas nesta edição, que retoma formato presencial em 2022. O evento é assinado pelo curador-geral, Marcello Dantas, os curadores adjuntos Tarsila Riso, Laura Cattani, Munir Klamt e Carollina Lauriano e a curadoria pedagógica de Germana Konrath. Com acesso gratuito, as exposições, que incidem sobre o tema Trauma, Sonho e Fuga, pretendem proporcionar ensaios de imersão por meio dos sentidos e da percepção dos visitantes. A mostra, presidida pela empresária Carmen Ferrão, acontece de 15 de setembro a 20 de novembro em diferentes espaços de Porto Alegre.

Esta edição reconhece nos traumas – individuais ou coletivos – o maior combustível da arte de todos os tempos e entende os sonhos como um estratagema para a fuga. Assim, a vivência traumática coletiva, como é o caso da pandemia de Covid-19, impulsiona a criação artística para um novo território. O impacto no imaginário comum, por meio da ativação do onírico, dos sonhos e dos delírios, abre portas para o escape de uma condição imposta a todos nós.

Trabalhando na fronteira entre a arte e a tecnologia, o curador-geral desta edição, Marcello Dantas, é um criador interdisciplinar. Por trás da concepção de diversos museus, como o Museu da Língua Portuguesa, a Japan House e o Museu do Caribe, na Colômbia, Dantas produz exposições, museus e múltiplos projetos que buscam proporcionar experiências de imersão por meio dos sentidos e da percepção. “A mostra acontecerá em cinco plataformas distintas, cada uma objetivando atingir uma combinação de públicos diferentes e conteúdos originais, provocando de forma disruptiva, sensorial e reflexiva”, esclarece Dantas.

Marcello Dantas, curador-geral da Bienal

Na presidência da 13ª Bienal do Mercosul, Carmen Ferrão enxerga nesta uma edição global, que terá mais de 90 artistas de 20 países diferentes. “Mais do que democrática e inclusiva, esta Bienal trará inovação e tecnologia, além de apresentar novos talentos e espaços da cidade a quem nos visitar. Meu desejo é levar a arte contemporânea para todos”, afirma a presidente.

Além de obras no Museu de Arte do Rio Grande do Sul – MARGS, no Memorial do Rio Grande do Sul, no Farol Santander Porto Alegre, na Fundação Iberê Camargo, na Usina do Gasômetro – interligada aos Armazéns do Cais do Porto, na Casa de Cultura Mario Quintana, no Instituto Ling e no Instituto Caldeira, a edição criará um percurso de Arte Urbana na região central da cidade. A Bienal também contará com um núcleo histórico de obras de outras edições no Memorial do Rio Grande do Sul. Artistas como o catalão Jaume Plensa, o mexicano-canadense Rafael Lozano-Hemmer, o britânico radicado em Berlim Tino Sehgal, a pioneira da arte performática Marina Abramovic e a artista e arte-terapeuta Lygia Clark compõem a lista formada por mais de 90 artistas selecionados para a Bienal.

Obras e artistas

Jaume Plensa

Vencedor do Prêmio Velázquez de Artes em 2013, Jaume Plensa, um dos escultores contemporâneos de maior relevância, terá mostra individual na Fundação Iberê Camargo. Com obra inédita, a exposição reúne criações autorais de Plensa, todas baseadas na dimensão do homem e em sua relação com o meio ambiente. Serão 12 trabalhos compostos de diferentes materiais como resina, aço, ferro, vidro e náilon. Conhecido por suas esculturas de rostos e corpos gigantes instalados em espaços públicos, como a Awilda – obra temporária construída em mármore e resina na praia de Botafogo, no Rio de Janeiro, em 2012. Jaume Plensa já teve trabalhos expostos na Espanha, França, Japão, Inglaterra, Coreia, Alemanha, Canadá, Estados Unidos, entre outros. Nos Estados Unidos, no Millennium Park de Chicago, está a obra interativa Crown Fountain.

Rafael Lozano-Hemmer integra a programação da 13ª Bienal com cinco obras interativas criadas a partir de seus conhecimentos como cientista físico-químico. Por meio de dispositivos tecnológicos que coletam em tempo real dados biométricos do espectador, entre eles frequência cardíaca, respiração, voz e impressões digitais, suas obras são ambientes responsivos. Foi o primeiro artista a representar o México na Bienal de Veneza, em 2007. Participou também de outras importantes Bienais: Havana, Sydney, Shanghai, Istambul, Liverpool, Seoul e Singapura. Thermal Drift, Pulse Topology, Hormonium, Vocal Folds estarão expostas no Farol Santander.

Tino Sehgal, reconhecido mundialmente por suas performances de situações construídas – nomeadas por ele como interpretações –, traz para essa edição This Element, que ocorrerá em diferentes espaços expositivos da Bienal. Ao invés de utilizar objetos físicos, as interpretações do artista enfocam gestos transitórios e sutilezas sociais de experiências vividas, provocando reflexões em torno de questões sociais, políticas, econômicas e, até mesmo, em relação aos espaços destinados à Arte. Vencedor do Leão de Ouro na Bienal de Veneza em 2013, Sehgal foi um dos destaques da Documenta de Kassel em 2012 e um dos finalistas do Turner Prize, mais importante prêmio de arte contemporânea do Reino Unido.

Uma das mais importantes artistas da Arte Performática, Marina Abramovic integra a seleção da 13ª Bienal do Mercosul com a obra Seven Deaths, exposta no MARGS, que recria em vídeo cenas de mortes da cantora greco-americana Maria Callas. A trilha sonora da performance é composta por óperas da cantora lírica, como La Traviata, Tosca e Otello. Ao expor de forma radical condições relacionadas ao trauma, à dor, à violência e à autoridade em suas obras, a artista com quase 50 anos de carreira, se aproxima da temática do evento Trauma, Sonho e Fuga. O caráter autobiográfico da sua obra, alimentado pelo sofrimento inerente às suas desilusões e dramas amorosos, encontra uma ressonância particular na vida de Maria Callas.

Nascida em Belgrado, na Sérvia, Marina Abramovic tem uma relação especial com o Brasil. Em 2012, viajou pelo país em busca de cura, transformação espiritual e inspiração, tendo participado de diversos rituais. A jornada resultou no documentário “Espaço Além”, lançado em 2016. Em 2015, apresentou a exposição Terra Comunal – Marina Abramovic + MAI’, no SESC Pompeia, São Paulo. Foi uma das primeiras artistas performáticas a ser formalmente aceita pelos museus tradicionais, com grandes retrospectivas e exposições individuais em espaços como Moma, Royal Academy of Arts de Londres, Guggenheim e Louisiana Museum of Modern Art.

Marina Abramovic

Criada a partir do trabalho da mineira Lygia Clark (1920-1988) – umas das mais importantes artistas do século 20 – a exposição compartilhará, pela primeira vez, trechos do diário clínico de Lygia enquanto arteterapeuta. Com uma arte voltada para a profundidade humana, a exposição no MARGS conta, também, com a recriação de objetos relacionais confeccionados por ela e utilizados nas sessões de arteterapia com seus pacientes.

Lygia, que nos últimos anos de vida se declarou não-artista, passando a se dedicar inteiramente às práticas terapêuticas, defendia que a arte precisava ser experienciada, tocada e vivida. Os objetos são resultado de experiências que a artista viveu com o próprio corpo, como a obra Respire Comigo, de 1966, em que Lygia utiliza um tubo de borracha para ecoar a respiração. Sobre a obra, descreveu: “Quando ativada perto do ouvido, essa mangueira de borracha proporciona uma medida da respiração do corpo, revelando o próprio pulmão vivo. Quando nos tornamos conscientes do ritmo do corpo não o esquecemos rapidamente”.
Chamada aberta/Transe

Com o objetivo de oferecer uma vivência em arte e novas tecnologias, a 13ª Bienal do Mercosul lançou, em 2021, o Chamada Aberta, que recebeu mais de 880 propostas de 22 países, entre eles Argentina, Uruguai, Colômbia, México, Estados Unidos, Eslovênia e Alemanha. Inédito na mostra, o edital selecionou 19 artistas e coletivos para compor a exposição Transe, no mais novo espaço cultural da cidade, o Instituto Caldeira. Os projetos escolhidos exploram e investigam novas tecnologias, linguagens e materiais, assim como revisam saberes e técnicas tradicionais.

Dos projetos selecionados pelos curadores Marcello Dantas, Tarsila Riso, Laura Cattani, Munir Klamt e Carollina Lauriano, 15 são brasileiros e outros quatro são de artistas ou coletivos da Argentina, do Uruguai, do Peru, da Bolívia e dos Estados Unidos. Para Dantas, “além da alta qualidade das propostas apresentadas, a surpresa foi encontrar também pesquisas que relacionam arte, biologia e elementos orgânicos que se mostraram consistentes e bastante inovadoras”. Até o início da 13ª Bienal do Mercosul os artistas têm mentorias com os curadores e suporte técnico em laboratórios de entidades parceiras com acesso a materiais e equipamentos.

Hypnopedia – enciclopédia audiovisual de sonhos

Projeto colaborativo do artista mexicano Pedro Reyes, o Hypnopedia – enciclopédia de sonhos convida o público a produzir filmes registrando suas memórias oníricas a partir de linguagens diversas. Os materiais serão selecionados e compilados para apresentação no MARGS e nas redes sociais da Bienal. Interessados em orientações, podem participar de encontros online e oficinas práticas e presenciais a partir de maio na Casa de Cultura Mario Quintana e no Instituto Ling.
Arte Urbana

Obras de reconhecidos artistas brasileiros que atuam no espaço público das cidades ativarão uma circulação cultural e de pedestres na região central de Porto Alegre. A parte externa da Usina do Gasômetro, os Armazéns do Cais do Porto, as ruas do Centro Histórico e a Casa de Cultura Mário Quintana farão parte do circuito.

A Usina do Gasômetro também será ocupada por instalações de artistas latino-americanos que, por meio de ocupações simbólicas, atuando em zonas limítrofes e com atrito entre elas, a mostra será formada por criações que revelam a tensão deste momento.

Projeto Educativo

O Projeto Educativo é uma das ações da programação da Bienal do Mercosul, realizada em Porto Alegre desde 1997. Em 2007, na 6ª edição, alcançou um novo patamar, permitindo maior integração com a comunidade e os diferentes públicos. A partir desse momento, a ação educativa se tornou permanente na Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul, cumprindo assim seu papel institucional de formação ao promover a qualificação do ensino da arte e a construção de um pensamento crítico e criativo por meio de formações e oficinas, por exemplo.

Para a 13ª edição, a equipe educativa organizou ações em diversas plataformas e formatos, de maneira estendida no tempo, a fim de promover a qualificação do ensino da arte e a construção de um pensamento crítico e criativo de modo continuado. “Neste sentido, antecipamos a produção do material pedagógico Diálogos, voltado a professores da rede pública estadual, já distribuído via SEDUC e SMED para trabalho em sala de aula ao longo deste ano”, afirma Germana Konrath, curadora pedagógica.

Um diálogo sincero – Curso para Formação de Mediadores, que acontece entre 12 de julho e 14 de setembro, no Centro Cultural da UFRGS, é voltado para estudantes e profissionais interessados em arte contemporânea, educação, cidadania e acessibilidade cultural. Gratuito e dividido em dois módulos, o curso totaliza 25 encontros. Abordará conteúdos práticos e teóricos, reflexões envolvendo os temas desta edição da Bienal – Trauma, Sonho e Fuga. Interessados podem se inscrever pelo link.

Zonas de contato – Seminário da 13ª Bienal do Mercosul abordará o tema Trauma, Sonho e Fuga a partir de diferentes experiências, formações e áreas de conhecimento, sem hierarquização de saberes. Serão seis encontros presenciais, entre julho e novembro, realizados no Instituto Ling. Em breve serão divulgadas as datas, os convidados confirmados e as inscrições para o seminário.

Com encontros presenciais entre junho e novembro, também no Instituto Ling, o Conversas de cozinha – Bastidores da 13ª Bienal do Mercosul irá desmistificar os processos artísticos e aproximá-los da comunidade, a partir do dia a dia das equipes de produção, educativo e arquitetura desta Bienal.

Outras ações como oficinas para públicos espontâneos e agendados, encontros com educadores, participação em projetos artísticos específicos comissionados para esta Bienal, ocupações educativas por meio da articulação de atividades do educativo em outras instituições, estão na programação do Educativo. Além do carro-chefe, a mediação, que acontece em todos os espaços expositivos da Bienal, seja para público espontâneo ou agendado. Visando ampliar o acesso, três ônibus possibilitarão o transporte de turmas da rede pública da Grande Porto Alegre às mostras da Bienal.

Ao longo de 12 edições, o Projeto Educativo já realizou um milhão e 200 mil agendamentos escolares, produziu 298 mil materiais didáticos para alunos, professores e instituições de ensino e já formou mais de 2 mil mediadores.

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