Tente lembrar de outro personagem na história que seja um artista visual, produtor de filmes pornô chic, gay, empresário de banda de rock, que tenha levado um tiro de uma feminista e sobrevivido e que marcava presença nas festas de celebridades nova iorquinas nos sábados à noite e acordava cedo no dia seguinte, domingo, para ir à missa numa igreja católica. A única personalidade capaz de cumprir todos estes quesitos é o Papa do Pop, Andy Warhol. O artista que vagava pelas ruas da cidade com sua peruca platinada, jaqueta de couro e óculos escuros, distribuindo edições de sua revista interview é conhecido principalmente por ter sido (fazendo uma paralelo metafórico religioso) o verbo encarnado do famoso ensaio de Walter Benjamin “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, produzindo várias cópias coloridas em seus silk screens de imagens de produtos de consumo e artistas de cinema e da música; escondia, ou pelo menos não se interessava em divulgar, seu lado religioso. Em seu diário, editado e publicado por sua secretária e confidente, Pat Hackett, há inúmeras ocasiões em que Andy afirmava ter ido domingo de manhã numa igreja católica localizada na Upper East Side, em Manhattan, de 1976 à 1987. Natural de uma família emigrante austro-húngara, que tinha como religião o rito católico bizantino rutena, talvez a presença de imagens e ícones religiosos na sua casa tenha, em seu subconsciente, se amalgamado com os pôsteres de estrelas de cinema que enfeitavam as paredes de seu quarto e influenciado esta personalidade tão contraditória de Warhol. O fato é que, na última década de sua vida e de sua produção artística, o artista dedicou-se à obras que tinha Jesus Cristo como tema. Tendo feito com o Cristo o mesmo que fez com Marilyn Monroe, Warhol produziu obras com a imagem do Salvador colorida com fortes cores e reproduzidas à exaustão, chegando até a por uma etiqueta com valor em dólares em uma destas representações. Utilizando de metalinguagem artística, Andy reproduziu também releituras (ou seriam cópias?) do famoso afresco de Leonardo da Vinci, A última ceia, também empregando cores vibrantes e, é lógico, reproduzindo a imagem uma centena de vezes. Uma destas obras foi leiloada em 2014 por U$ 9,3 milhões. Esta obra, como se sabe, ilustra uma passagem bíblica neotestamentária, onde Cristo revela que sua morte se aproxima. Andy Warhol fez suas versões de A Última Ceia nas vésperas de sua morte, em 1987, perpetuando com esta coincidência mórbida a sua lendária carreira.
Versão de A Última Ceia de Warhol, leiloada em 2014 por U$ 9,3 milhões. (- Foto: PER LARSSON / TT / TT NEWS AGENCY / AF)
ALTO FALANTE
Andy Catholic Warhol
Tente lembrar de outro personagem na história que seja um artista visual, produtor de filmes pornô chic, gay, empresário de banda de rock, que tenha levado um tiro de uma feminista e sobrevivido e que marcava presença nas festas de celebridades nova iorquinas nos sábados à noite e acordava cedo no dia seguinte, domingo, para […]