Por Gustavo Penna*
80 anos da Escola Guignard. Sou grato por fazer parte dessa estrada de sensibilidade, como arquiteto e, acima de tudo, como aluno admirado. Guignard foi um artista “a guiar” movimentos, expressões e fazeres criativos, a inspirar gerações. Talvez seja por isso que, desde sempre, a Escola Guignard é mais que local de aprendizado e experiência, é espaço vivo, pulsante e imbuído de uma energia que transcende os tempos, é clara nascente das belas artes de Minas.
A arte é construída com dimensões imateriais do sentimento. Não tem princípio nem fim, não podemos medir com as ferramentas usuais e é essa imaterialidade que a torna tão vital. O suporte é matéria, mas a essência é transcendente. A arte do homem das cavernas é tão arte como a de Van Gogh, Picasso, Kapoor ou Basquiat. Não há evolução, é arte ou não é, para sempre. E Guignard é arte.
Os 80 anos de ideias vivas têm um frescor que desafia a passagem do tempo. A Guignard é movimento, vida é movimento, como manifestava Guimarães Rosa em seus escritos. O edifício da Guignard respira arte, nossos olhos, sentidos, respiram arte. Escola que preenche Minas Gerais e ultrapassa os limites de suas montanhas. Sem a Guignard haveria vazio, uma cratera escura, no campo artístico brasileiro. A Guignard é uma força definitiva que enriquece a própria identidade de Minas.

FOTO: Jomar Bragança
Quando fui convidado por Amilcar de Castro e professores da escola, para projetar o edifício — que dentro desses 80 anos, completa três décadas — pensei na Escola Guignard como um “trem de ferro” que carrega a arte mineira. Feita de aço, essa matéria-prima que brota de nossas montanhas, a escola é um trem que transforma as pessoas que cruzam seu caminho. O trem passa pelas paisagens de Minas, tão presentes nos quadros de Guignard. Igrejinhas no topo das serras, balões de papel flutuando sobre elas, uma dimensão de leveza e sonho aos cenários, ligando a terra e o céu. Guignard sabia criar uma atmosfera única que mistura o real e o imaginário, e foi assim que idealizei a escola que levaria seu nome.
Estamos falando de um testemunho tridimensional do legado de Guignard como mestre e artista. Guignard é, para mim, a pedra fundamental da arte contemporânea mineira. Sua arte é universal. Suas paisagens, seu traço perfeito, suas cores, ora leves, ora trágicas, transcendem fronteiras. Esta potência continua estimulando aprendizes e inspirando trajetórias artísticas. A Escola, feita à sua imagem, é um ambiente propício para a descoberta, é um epicentro de criações, e é isso que a torna mágica. Artistas nascem e se transformam ali, e o ato de criação é contínuo e coletivo.
Celebrar os 80 anos da Escola Guignard é lembrar que tudo ali começou com a arte e a visão imortal de Guignard. Este é um marco na história de Minas Gerais e do país. A jornada de 80 anos de arte em transformação é a expressão viva da potência criadora de nossa gente. A arte da Guignard é atemporal, a caminhar no infinito, um sonho que nunca termina. É 80 e sempre.

FOTO: Jomar Bragança
As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião da revista Dasartes, sua equipe e conselho editorial.
*Gustavo Penna é arquiteto e urbanista, fundador do escritório GPA&A, que assina obras premiadas no Brasil e no exterior.