Washington da Selva | galeria carioca samba arte contemporânea

A galeria carioca samba arte contemporânea participará pela primeira vez da SP Arte – Rotas Brasileiras, que será realizada de 24 a 28 de agosto de 2022, na ARCA, galpão industrial localizado na Vila Leopoldina, em São Paulo. A galeria apresentará o projeto solo “Origem”, com obras recentes e inéditas do artista mineiro Washington da Selva (Carmo do Paranaíba, MG, 1991), um dos vencedores do prêmio Das Artes 2021. No projeto solo, estará, além de outros trabalhos, a série “Lastro”, premiada no 8° Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger na categoria Questões Históricas.

Para falar sobre o projeto solo que apresentará na SP Arte, no dia 18 de agosto, às 20h, Washington da Selva participará da live “Vestidura, Território e Memória”, no Instagram da galeria samba (@sambartecontemporanea), com a artista Jota Testi, na qual falará sobre suas poéticas e práticas artísticas. A discussão percorrerá os caminhos que tangem a territorialidade, a diversidade dos suportes utilizados por ambos os artistas e a vestimenta enquanto um artefato de proteção e identificação.

Composto por sete séries – A Coroação, Lastro, Lastro: Efigie, Watches, Social Jungle, Caravelas e Atravessadores – o projeto solo “Origem” traz como temas o trabalho, o deslocamento e a ancestralidade. Filho de trabalhadores rurais, a sua pesquisa artística lida com os contrastes entre a zona rural, a cidade urbana e a cultura digital, provocando diálogos sobre a noção de trabalho e vigilância. “Trato de questões que são da minha experiência de vida, tornando-se quase um trabalho etnográfico de mim mesmo”, pontua Washington.

OBRAS EM EXPOSIÇÃO:
A Coroação, seu mais recente trabalho, inédito, parte de uma extensa pesquisa histórica e iconográfica sobre culturas de plantas alimentícias onde revisa e estuda gestos e procedimentos de cultivo que fizeram parte de sua herança cultural. A coroação é um artefato desse estudo, ele borda imagens de plantas ao lado de gestos de trabalhadores rurais no tecido das roupas de um conjunto de EPIs criado para ser utilizado na aplicação de agrotóxicos.

Em Lastro, série premiada no 8° Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger, o artista retrata pessoas empunhadas com ferramentas de trabalho do campo. Utilizou solvente para gravar as imagens em cupons de ponto, guardados por ele de seu último emprego em regime CLT. Os apagamentos e as manchas ocasionadas pelo solvente remetem aos odores e a toxidade pelo uso de agrotóxico. Esse trabalho lida com as tentativas de evitar o efeito análogo ao apagamento social desses personagens na nossa história.  Em exposição contínua e permanente a luz as imagens tendem a desaparecer como que “anuladas” pela presença da toxidade no ar. Cada uma das imagens será apresentada em pequenas caixas que poderão ser abertas para visualização, acompanhadas de uma reprodução emoldurada, com o intuito de preservar a existência da imagem fotossensível.

No trabalho Lastro: Efigie, uma reverberação da série Lastro, o artista, através da ampliação das imagens presta homenagem ao trabalhador rural, da mesma forma que se faz comumente nos monumentos aos monarcas e políticos. Washington, como uma lupa, nos mostra o peso desses pequenos cupons que comprovam o ponto de entrada e saída presentes no controle do cotidiano de muitos trabalhadores que operam em regimes de CLT no Brasil.

Para produzir o trabalho Watches Washington utiliza recortes de cupons de registro de ponto do trabalhador e um relógio de cordas. Nos recortes, horas e datas, e um nome comum aos brasileiros, ‘Silva’. A obra tanto busca provocar o pensamento sobre os mecanismos do sistema atual de trabalho quanto também o coloca em operação, sendo que, para que funcione, é preciso diariamente dar corda manualmente.

Na série Social Jungle o artista transita pelo cotidiano do trabalho rural e doméstico, entre ferramentas artesanais e tecnológicas. Os bordados reproduzem imagens capturadas por sua mãe com as câmeras de segurança instaladas na frente a sua casa em Carmo do Paranaíba, cidade natal do artista. Os personagens dos bordados se destacam pela cor e a paisagem é marcada pelo cinza e prata do mundo contemporâneo e da moldura da tela do celular.

Na instalação Caravelas, o branco e a incerteza da direção a tomar permeiam o caminho de Da Selva, o seu próprio êxodo. Pipas brancas com recortes de flechas de direção inspiradas nas placas de trânsito iluminadas e instaladas no espaço expositivo ficam como que a deriva, pausadas e suspensas no ar. Translúcidas, revelam inúmeras possibilidades de direção a seguir.

Em Atravessadores, a ação de atravessar a rua às pressas em meio ao trânsito, era feita pelos trabalhadores que Washington encontrava em uma das principais vias da cidade de Juiz de Fora, Avenida Getúlio Vargas.  A partir da visualização dessas cenas cotidianamente, o artista resolve não diretamente com a fotografia, mas com o gesto de representação dessas imagens em desenho e bordado.

 

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