A Multiarte e a Pinakotheke Cultural, em colaboração como Instituto Victor Brecheret, apresentam a exposição “Victor Brecheret e a Semana de Arte Moderna de 1922”, com aproximadamente 50 obras dos artistas Victor Brecheret (1894-1955), Anita Malfatti (1889-1964), Vicente do Rego Monteiro (1899-1970), Zina Aita (1900-1967), Helios Seelinger (1878-1965) e Tarsila do Amaral (1886-1973).
Oito obras apresentadas integraram o histórico evento no Theatro Municipal de São Paulo em 1922. Outras raridades são as esculturas em terracota “São Francisco com bandolim” (década de 1940) e “Cabeça feminina” (década de 1940), de Brecheret; o desenho “Cabeça de homem (verde)”, 1915-1916, de Anita Malfatti; e três desenhos que Di Cavalcanti fez entre 1917 e 1924 para seu lendário álbum de gravuras “Fantoches da meia-noite”: “Fantoche com baralho”, “Fantoche com leque” e “Fantoche no piano”.
A exposição está dividida em quatro módulos: “Brecheret e a Semana de Arte Moderna”, com obras de Brecheret e de artistas que participaram da Semana de 1922: Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Zina Aita, Vicente do Rego Monteiro e Helios Seelinger; “O feminino na escultura de Victor Brecheret”, com as esculturas, em variados materiais e modalidades, sobre a figura da mulher; “Brecheret e a escultura religiosa”, com obras produzidas nas décadas de 1940 e 1950, que dão a dimensão da importância e da pluralidade de sua produção religiosa; e “Brecheret e a escultura com temática indígena”, universo a que se dedica cada vez mais no final dos anos 1940, a forma estrutural que perseguia desde a década de 1920, influenciado por Mário de Andrade.
Em uma vitrine, estarão raros exemplares de várias publicações: “Livro de horas de Soror dolorosa” (1920), poema de Guilherme de Almeida que inspirou a escultura exposta por Brecheret na Semana de Arte Moderna de 1922; “A estrela de absinto” (1927), de Oswald de Andrade, romance cujo personagem principal, o escultor Jorge D’Alvellos, é inspirado em Brecheret; “O losango cáqui”(1926), de Mário de Andrade, com capa de Di Cavalcanti; edição fac-similar do Catálogo e do Programa da Semana de Arte Moderna; o “O sacy” (1926-1927), revista modernista fundada por Cornélio Pires; e o álbum de gravuras de Di Cavalcanti “Os fantoches da meia-noite” (1921).
A exposição é acompanhada de um catálogo com 84 páginas, com as imagens das obras e textos de Max Perlingeiro e da pesquisadora Daysi Peccinini.

HELIOS ARISTIDES SEELINGER, Sátiro seduz a ninfa Syrinx com a flauta de Pan, 1924 | FOTO: Jaime Acioli
EVENTO POLÊMICO
Max Perlingeiro observa que “na realidade, foi uma semana de três dias, congregando áreas diversas”. Ele destaca que “o catálogo da exposição de artes plásticas da Semana de Arte Moderna, elaborado por Emiliano Di Cavalcanti, é indicativo do protagonismo do escultor Victor Brecheret na realização do explosivo evento. A lista de esculturas é encabeçada por doze obras do artista, formando um conjunto de marcante presença no saguão do Theatro Municipal durante os três agitados dias entre 13 e 17 de fevereiro de 1922”.
O curador assinala ainda que, em conversa com Paulo Prado, Di Cavalcanti pleiteou a exposição que resultou na Semana de Arte Moderna, tomando como modelo o Festival de Deauville, por sugestão de Marinette Prado e outras semanas de elegância europeia na França. Di Cavalcanti foi o principal organizador do evento, o coordenador das exposições, o criador das peças gráficas: programa e cartaz, responsável pela ida dos artistas do Rio, e ainda expôs doze de suas obras.
Max Perlingeiro acrescenta que Di Cavalcanti, ao ler a repercussão da Semana na imprensa, se decepcionou, afirmando que “a fina flor do que havia de mais direita conservadora na sociedade paulistana ia apadrinhar uma manifestação literária contra tudo que eles apreciam. (…) A Semana de Arte Moderna levou-me a Paris. Era necessária a aventura de uma viagem ao estrangeiro, era necessário tirar uma prova real de mim mesmo fora de um ambiente que me parecia cada vez menor, obstruído pelo começo de um novo academismo, com adesões de novos modernistas” (in “Viagem da minha vida: memórias”, Civilização Brasileira, 1955).