Territórios | CRAB

O Centro SEBRAE de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB) inaugurou no dia 19 de janeiro, para convidados, e no dia seguinte para o público a exposição “Territórios”, com concepção visual de Bia Lessa, e curadoria de Renata Piazzalunga, do Instituto de Pesquisas em Tecnologia e Inovação, que mostra de uma forma lúdica e atraente o universo dos artesãos das cidades de Poço Redondo, Sítios Novos e Poço Verde, em Sergipe, e Ilha do Ferro e Entremontes, em Alagoas.  “Territórios” mostra para o público o detalhado projeto Tecnologia, Design e Inovação do Artesanato, implantado pelo IPTI e SEBRAE ao longo de três anos nessas cidades. Perto de mil bandeirinhas percorrem a exposição em fios suspensos no teto, representando o número de dias trabalhados pelo projeto. Para que se pudesse entender melhor a inovadora metodologia aplicada junto aos artesãos, “Territórios” foca a cidade de Poço Redondo, mas os produtos desenvolvidos em todos os cinco municípios podem ser vistos e também adquiridos na loja do CRAB SEBRAE.
Na primeira sala, o público toma contato com a pequena cidade de Poço Redondo, onde Lampião e Maria Bonita foram mortos. A partir de um detalhado levantamento iconográfico, estão nas paredes fotografias do lugar, seus personagens e sua história, com legendas escritas à mão por um grupo de jovens calígrafos de São Paulo. O chão está coberto por um tapete onde se verá impresso um mapa com a relação entre os locais dos artesãos e as metrópoles. Sobre o chão, uma bola de 1,5m de diâmetro, feita em fibra de vidro, contém informações sobre Poço Redondo, epodeser girada por uma ou mais pessoas, em um movimento conjunto para que a leitura seja partilhada.
Na segunda sala, as paredes são bordadas com fios de lã vermelha que compõem textos informativos sobre os artesãos de Poço Redondo e sua associação, quem são e como trabalham. Várias camadas de linhas verticais e diagonais se sobrepõem a esta escrita, remetendo aos bordados e às tramas da renda de bilro. No centro do espaço 19 cadeiras, em círculo, fazem uma alusão às reuniões, e, sobre cada um dos assentos, estará um trabalho feito pelos artesãos antes da chegada do projeto Tecnologia e Inovação do Design, do SEBRAE/IPTI.  “Um dos fatos revelados pelo projeto é que é fundamental o elo de confiança. Tudo é tênue, delicado, sutil. Não são relações fáceis e óbvias, e eu gostaria que o públicoperceba, que  isto se reflita em sua atitude diante da exposição. Por isso também a presença da linha nesta sala, um elemento delicado”, explica.
Na terceira sala, foram empregados mais de 2 milhões 419 mil pregos, que  formam uma caligrafia que conta a história do que pensam e sentem os artesãos, suas dificuldades e sonhos, em frases e conceitos retirados do questionário respondido por eles durante o projeto.  “Um prego sozinho é só um prego. Junto pode ser outra coisa. É a ideia da associação: um sozinho faz uma coisa, mas quando se tornam juntos, trabalham em um coletivo, transformam, tem uma lógica, uma postura diferente”, ressalta Bia Lessa.
Um gigantesco rolo de tecido, com 40 metros de comprimento, cai de um andaime, e ondulará sobre cavaletes na extensão da sala. Bordadeiras da Coopa-Roca escreveram sobre o tecido o detalhamento das atividades dos artesãos, registrado no bloginterno pelo projeto para compartilhar as atividades diárias.. Para ler o conteúdo, o público poderá estender o tecido através de uma manivela.
Linhas de lã percorrem o teto dos três espaços e a loja do CRAB, e “costuram as ideias do que está na exposição”. Cada uma das salas tem uma trilha sonora própria, composta por Dany Roland.
“O público poderá ver na exposição produtos feitos pelos artesãos antes, durante e depois do projeto do SEBRAE/IPTI, que viabiliza economicamente as associações locais desses artistas”, conta. “O percurso da exposição termina na loja do CRAB, onde estarão as criações desses artistas populares”.
INSTALAÇÃO NA CALÇADA EM FRENTE AO CRAB
Os outros quatro municípios abrangidos pelo projeto do SEBRAE/IPTI estarão em uma instalação na frente do CRAB, na calçada, onde quatro bolas de 1,5m de diâmetro conterão informações sobre esses locais. “As bolas irão conviver com os transeuntes, dentro do objetivo do convívio compartilhado”, explica Bia Lessa que afirma ser “louca pela Praça Tiradentes”! “Tem tanta coisa bacana que acontece a sua volta, como os dois teatros, o Centro Carioca de Design, o Studio-X, a Estudantina, o Centro Municipal de Arte Helio Oiticica, e a exposição criou um espaço de diálogo com essa rica história”, conta.
Bia Lessa conta que ao ser convidada pelo SEBRAE a ideia inicial era mostrar somente as peças de artesanato. “Mas quando comecei a pesquisar o assunto deparei com o trabalho realizado junto aos artesãos. Achei inusitado e sofisticado, pois é um trabalho transformador e dinâmico, unindo tecnologia e artesanato. Isso seria o diferente, pois expor produto artesanal tem em todo o lugar”, diz.  Ela criou então instalações artísticas em três espaços contíguos do CRAB, de modo aque o público conheça e se conecte com a vida e o trabalho desses artesãos. “Mais do que interativa, a exposição tem uma proposta colaborativa, de estar junto”, destaca.
A premiada diretora e cenógrafa quis levar a estética dos artesãos para as salas da exposição, e traduziu visualmente as informações colhidas pelo projeto realizado em parceria do SEBRAE e do IPTI que mapeou, pesquisou e trabalhou junto a 120 artesãos organizados em cinco associações, ao longo de três anos.Ela decidiu se concentrar na cidade de Poço Redondo, em Sergipe, para poder aprofundar os dados obtidos.
A montagem da exposição envolveu mais de 60 pessoas, em três equipes, em um trabalho manual ao longo de quase três semanas e doze horas diárias. “Queria que os espaços tivessem este dado artesanal. Os pregos e as linhas fazem parte do processo de trabalho deles, o bordado, a renda, tudo feito à mão, em um diálogo real com os materiais usados por eles e a tecnologia, ligando todos os conteúdos”, diz Bia Lessa.  “O público verá o rigor, o tempo empregado e o trabalho árduo desses artesãos, e seu valor”.

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