Rômolo | RV Cultura e Arte

RV Cultura e Arte apresenta YUCA, exposição individual de Rômolo, com texto crítico de Tálisson Melo.

A mostra dá sequência ao trabalho do artista que parte da noção de caderno de viagem como uma narrativa sobre a experiência de ir ao encontro do outro e de si mesmo. Nesta ocasião, a partir de viagens pela Amazônia e ainda impregnado de experiências vividas durante visitas e residências em países como Bolívia, Peru, México e Guatemala, e das referências estéticas daqueles territórios, notadamente das cerâmicas e da produção têxtil, Rômolo expõe trabalhos que aludem a representação do barro (terra) e dos alimentos que são raízes, principalmente a mandioca, macaxeira, aipim ou YUCA, como é conhecida na Mesoamérica.

“As primeiras obras que surgem para esse projeto, algumas esculturas em cerâmica, ainda estão ligadas a um interesse pela figura humana, pelo antropomorfismo, e são um momento de transição na pesquisa. Elas ainda trazem elementos gráficos que ao longo dos anos foram se retroalimentando, de uma forma autofágica. Ao mesmo tempo, em alguns objetos de cerâmica sonora, busco romper o limite material da terra a partir do som, através da manipulação das peças, e com o uso de pequenas produções têxteis aliadas às cerâmicas vou introduzindo composições mais abstratas, composições que mais tarde, em obras bidimensionais, vão aparecer com mais frequência”, comenta o artista.

Entre essas as obras, a série “Liames” traz colagens e pinturas, incluindo duas telas em grande formato que exploram a ideia de solo e as tramas nele geradas pelas raízes. O ponto de partida das composições se instala nas linhas e traços de uma representação quase figurativa do assunto que então derivam em outras abstrações. “Hoje, as pinturas e colagens de Rômolo vão se distanciando da figuração antropomórfica — ainda que com resquícios de seus sonhos antigos —, e se lançam em um rumo abstratizante sensível e vigoroso, contagiando também suas cerâmicas e tecidos”, resume o pesquisador e curador Tálisson Melo.

YUCA também celebra o interesse do artista em estabelecer diálogos entre as tradições e a diversidade cultural de diferentes territórios, ao mesmo tempo em que tensiona questões relacionadas à própria identidade brasileira, problematizando o pertencimento do país dentre o que se convencionou chamar de América Latina, tema caro no contexto da arte contemporânea nacional. “Nesse mundo de sonhos que deriva de sua fixação sobre as trajetórias da yuca pelos territórios centro e sul-americanos, há ainda espaço para ressignificar os ícones ‘mais baratos’ das identidades nacionais que impõem suas fronteiras (ora mais duras, ora mais porosas), nos imaginários do que somos e podemos ser”, finaliza Melo.

Compartilhar: