O que se passa é a mais recente exposição inédita do fotógrafo Rogério Reis, que será inaugurada no Paço Imperial. O aclamado fotógrafo brasileiro que navega com maestria entre o fotojornalismo e a arte, tanto no Brasil quanto no exterior, apresenta suas séries de obras, imagens e filmes mais recentes, que transitam entre o óbvio e o inimaginável. São trabalhos que foram produzidos desde o período da pandemia, registrando suas saídas diárias às praias da zona sul do Rio de Janeiro e seu envolvimento com as diversas comunidades que frequentam as orlas.
A exposição engloba mais de 100 obras, divididas em seis séries, e oferece uma visão profunda das intererações com a cidade que o artista adquiriu ao longo de seus mais de 45 anos de trajetória. Sua “residência artística”, por assim dizer, é a rua, e, no contexto desta exposição, as areias das praias cariocas.
“Tenho desinteresse por aspectos contemplativos da paisagem e busco ressignificar o que aparenta ser banal e pouco explorado pela vasta crônica visual das praias da zona sul do Rio de Janeiro. Objetos funcionais, equipamentos esportivos, descartes, vestígios das ressacas e gambiarras que facilitam a vida dos banhistas e profissionais das areias são os protagonistas, diz Rogério Reis.
“Rogério é fotógrafo independente há quatro décadas. Depois de passar pelo Jornal do Brasil, Globo, Veja se juntou ao grupo da Agência F4 onde aprendeu a pesquisar e desenvolver seus próprios temas durante os anos 1980. Ele não aderiu à arte estritamente engajada em voga quando começou a trabalhar nos anos 1970, – diríamos que sua linguagem estaria talvez mais próxima à poesia marginal e ao movimento de contracultura que surgia com o cinema novo, do que a arte de denúncia; ou seja, tem uma pegada existencialista e crítica, sem ser politicamente dogmática, com foco na liberdade de expressão, e atravessada por um fino senso de humor, de quem não se quer sério”, afirma Paula Terra-Neale, curadora da exposição.
“Rogério parece investir no propósito de trazer a periferia para o centro, de tornar permanente o que é da ordem do precário e do passageiro, de privilegiar o popular ao erudito, com uma abordagem fotográfica decididamente não elitista, direta, aberta, dialógica, informal, pessoal, poderíamos dizer, carioca em essência? Talvez até nos cooptando às potencialidades da cultura popular e praiana, a ginga, o funk, ao estilo libertário de viver”, complementa Paula Terra-Neale.
O que se passa apresenta imagens, vídeo e séries distribuídas em duas grandes galerias do Paço Imperial. A exposição revela o que muitas vezes escapa à nossa atenção, enfatizando a presença de corpos, mesmo quando ausentes. As obras de Rogério Reis documentam os vestígios da cultura visual e dos rituais das comunidades nômades à beira da orla carioca. As imagens se concentram nas comunidades de trabalhadores que sobrevivem na região costeira, abrangendo vendedores ambulantes e catadores de latas, que são representados nas montagens efêmeras, gambiarras, amarrações e “burrinhos-sem-rabo (carrinhos improvisados para transporte de objetos) que estão espalhados ou empilhados ao longo da orla. Além disso, a exposição traz outras comunidades que veem a praia como um espaço exclusivamente de lazer, e até mesmo seres não humanos, como os cachorros. Através da lente de Rogério Reis, esses seres são capturados no ar, em pleno salto, como se ele concedesse asas àqueles que vivem mais próximos do solo, em um gesto de pura liberdade e vitalidade.
Definitivamente “O que se passa na praia de Rogério Reis” é uma daquelas exposições que ninguém pode deixar de ver.