A mostra que entra em cartaz de 1 de outubro a 15 de novembro na Referência Galeria de Arte é a primeira individual do artista mineiro Rodrigo Zeferino. Ele traça um paralelo entre as questões geoeconômicas e a forma como nos relacionamos como sociedade ao longo de décadas de exploração das riquezas minerais e o que resta para as comunidades que vivem à margem. Entre os anos 2020 e 2025, o fotógrafo mineiro Rodrigo Zeferino percorreu os 892 quilômetros da Estrada de Ferro Carajás (EFC) que liga a Serra dos Carajás, no Pará, ao Porto de Ponta da Madeira, em São Luís, no Maranhão, construída para escoar a produção de minério de ferro e, outros minerais, das jazidas do complexo de Carajás (PA), e os 905 quilômetros da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), que interliga a Região Metropolitana de Vitória, no Espírito Santo, a Belo Horizonte, Minas Gerais, por onde escoa o minério extraído da região e exportado a vários países. Seu objetivo era produzir um ensaio fotográfico para abordar o universo social onde estão inseridas dezenas de comunidades localizadas às margens da EFC e da EFVM.
Para o projeto “Veia Aberta – à margem da estrada do ferro”, Zeferino se inseriu nos recônditos de vilas e assentamentos para dialogar com os representantes locais de modo a levantar questões caras a eles, como as questões ambientais e sociais que envolvem a estrutura logística que atende as demandas da mineração. “Era notório o modus operandi adotado pelas mineradoras com inegável descaso acerca dos impactos causados pela atividade, haja vista o rastro de consequências trágicas e criminosas envolvendo o setor, alguns dos quais de proporções calamitosas como os episódios de Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019, ambos em Minas Gerais”, explica o fotógrafo.
O projeto é atravessado por essa complexa rede de acontecimentos históricos, amalgamados em uma relação paradoxal de geração de riqueza e de abastecimento de todo o sistema econômico mundial em contraponto com a natureza insustentável da atividade e o desprezo pelas desigualdades e pelos desequilíbrios gerados.
Eder Chidetto, o curador da mostra, ressalta que em “Veia Aberta – à margem da estrada do ferro”, assim como em “Terra Cortada” e “O Grande Vizinho”, projetos de igual envergadura realizados anteriormente, Zeferino critica iniciativas institucionalizadas que transformam territórios naturais em commodities. Ele compõe um ensaio fotográfico contundente, que une a tradição da fotografia documental à liberdade experimental”.
As imagens dos trens abarrotados de minério cruzando o país em direção ao litoral são profundamente simbólicas: cada vagão leva mais do que ferro — carrega também pedaços de paisagens, traços de memórias culturais e identidades locais. O que se envia ao exterior não se resume à matéria-prima; junto dela vai o próprio futuro do território, comprometido em nome de um progresso que raramente alcança a maioria da população. Zeferino destaca essa realidade ao reunir, em suas imagens, montes de rejeitos e grãos de minério — vestígios que se espalham ao longo dos trilhos, derramados por vagões quase sempre além de sua capacidade.
O curador completa: “Grande parte do ensaio resulta em panorâmicas construídas pela junção de várias imagens. Esse formato, ao mesmo tempo em que emula o movimento dos vagões que rasgam a paisagem horizontalmente, à revelia das ondulações naturais do território, também remete ao achatamento da topografia provocado pela subtração das montanhas”.

