Regina Silveira e Liliana Porter | Luciana Brito Galeria

Exposições das artistas latino-americanas Regina Silveira e Liliana Porter abrem a programação 2025 da Luciana Brito Galeria. Tanto a brasileira Regina Silveira, quanto a argentina, radicada nos EUA, Liliana Porter, contribuíram para derrubar as barreiras das representações formais na arte através do experimentalismo. No pavilhão da galeria, Regina Silveira apresenta “GRAPHOS”, sua oitava exposição na galeria. Já no espaço da Sala Modernista, Liliana Porter apresenta “Otros cuentos inconclusos”.

Liliana Porter – “Otros Cuentos Inconclusos”
A exposição “Otros cuentos inconclusos”, da artista argentina Liliana Porter, apresenta mais de 30 obras, compondo um panorama da sua produção dos últimos cinco anos. Radicada em Nova York desde 1964, a artista soma mais de 60 anos de carreira, período em que desenvolveu uma sólida e significativa pesquisa em torno da representação da condição humana. Essa é a quinta exposição da artista na Luciana Brito Galeria, que também promoveu sua primeira mostra individual no Brasil, em 2001. “Otros cuentos inconclusos” empresta o seu título da sua mais recente obra em audiovisual, “Cuentos inconclusos” (2022), concebida em parceria com a artista Ana Tiscornia. Como o título sugere, o vídeo nos coloca diante de pequenas narrativas, cujos desfechos podem ser atribuídos de acordo com a nossa própria imaginação. Para tanto, o vídeo é apresentado em cinco partes, por meio de narrativas construídas com a combinação de frases extraídas da obra de literatura infantil “Simbad, o Marujo” e cenas animadas das instalações da artista. A trilha sonora, assinada por Sylvia Meyer, representa papel importante, ajudando não apenas na ambientação das cenas, como também dando vida aos personagens inanimados.

A produção de Liliana Porter nos coloca diante de pequenas fábulas visuais, ou crônicas atemporais da nossa própria condição de ser humano. Uma de suas grandes habilidades recai no poder de síntese das suas representações, que paradoxalmente (ou ironicamente) acontece a partir do colecionismo. Bibelôs, brinquedos, ornamentos e outros pequenos objetos garimpados ganham vida pelas mãos da artista. Eles permanecem armazenados até serem “licenciados” pela sua poética, por vezes ácida, por vezes bem humorada. O poder da simples combinação desses elementos, muitas vezes acrescidos de pinturas e desenhos, pautam questões profundas e inerentes da sociedade contemporânea, como é o caso da obra “The Anarchist (WOMAN IN RED)” (2022), onde uma pequena figura executa a grande tarefa de desenrolar um novelo de lã inteiro para criar obstáculos àqueles que quiserem adentrar o ambiente. Ou em “The Way Out (with red car)” (2022), em que uma grande barreira não é párea para um simples carro vermelho. A artista também apresenta um conjunto de 20 pequenas assemblages sobre papel e outras dez micro-instalações, onde objetos minúsculos ganham um grande poder narrativo, por meio de metáforas que tratam do tempo e da memória presente nos nossos repertórios mais íntimos.

Regina Silveira – “GRAPHOS”
A exposição GRAPHOS, de Regina Silveira, apresenta a obra homônima, concebida inicialmente em 1991, alguns anos antes da sua primeira exposição na Luciana Brito Galeria, em 1998. Esse resgate histórico de uma obra não realizada representa os quase 30 anos de parceria e reflete a evolução da pesquisa de Regina Silveira, que sempre esteve à frente nos estudos sobre percepção e representação visual, acompanhando os novos recursos da tecnologia na arte. A instalação site specific “GRAPH” foi inicialmente pensada segundo parâmetros das regras gráficas analógicas para corrigir as perspectivas do espaço arquitetônico da Storefront for Art and Architecture, em Nova York (EUA), durante residência da artista pela bolsa John Simon
Guggenheim Foundation (1991). Embora contemplada, as regras de preservação do prédio da Storefront não permitiram que o projeto fosse executado, já que naquela época a artista pintava as obras diretamente na parede.
Trinta e quatro anos mais tarde, a artista revisita a mesma instalação para o espaço similar do pavilhão da Luciana Brito Galeria, caracterizado por uma planta triangular. Para tanto, “GRAPH” foi transposta para os recursos gráficos digitais, que permitem a produção e aplicação de vinil adesivo nas paredes do pavilhão, corrigindo virtualmente seus ângulos irregulares sob a ótica do espectador. Regina Silveira utiliza os meios oferecidos pela tecnologia digital para elaborar e executar suas obras, possibilitando-a trabalhar à distância. A exemplo, a artista inaugurou recentemente a obra comissionada “Paradise”, no George Bush Intercontinental Airport (IAH), em Houston (TX – EUA).

A mostra também apresenta “GRAPHOS 6 (CARACOL)”, outro projeto dos anos 1990, que reitera a importância da relação com o lugar e o ponto de vista. Elemento recorrente na investigação da artista, a escada, desta vez produzida em chapas gravadas de alumínio, provoca nossa percepção da realidade através das distorções, profundidade e perspectiva. As primeiras escadas concebidas por Regina Silveira foram mostradas em 1984, como pinturas sobre paineis na exposição “Simulacros”, no MAC-USP, como parte de seu Doutorado na ECA-USP. Outra obra que segue esse mesmo imaginário, a litogravura “SEM FIM” (1993), também compõe a mostra na galeria.

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