A degradação ambiental do Norte e Noroeste do Rio de Janeiro, causada pelo manejo indevido dos recursos naturais da região, é observável a olho nu em sua paisagem. Tendo como resultado a aceleração de erosões, secas prolongadas, má qualidade do solo e, subsequentemente, a alteração do bioma regional, o que se deflagra é um problema de ordem ecológica que reconfigura a relação do humano com a natureza. Entendendo a necessidade de evidenciar estas alterações, o SESC Campos apresenta a exposição “Terra Vermelha”, individual do artista Raul Leal. A mostra parte de questões ecológicas no interior fluminense para propor uma prática artística capaz de incitar reflexões sobre as práticas em torno desse ataque ao ecossistema local.
Fruto direto da ação humana e da ganância de práticas extrativistas, o ataque sofrido pela região coloca em xeque a existência de um dos locais que ao longo de séculos foi cena para inúmeras pinturas, gravuras e desenhos de artistas que por aqui passaram. Como maneira de abordar esses problemas, Raul propõe nesta exposição uma série de trabalhos fotográficos impressos em papel e chapas de madeira, em que figuram registros da paisagem, de plantas e de mudas de árvores cultivadas pelo artista em áreas degradadas, tanto na zona fluminense como em outros espaços. “Apresento duas séries de trabalhos que tem como referência imagens da natureza no interior do Brasil. No meu processo lido com memórias, ausências e apagamentos”, conta Raul.
Os trabalhos partem do desejo de evidenciar problemas ambientais, como a desertificação, a extinção das espécies e a degradação dos recursos físicos, propondo também uma modo de atuar contra o avanço dessas práticas predatórias. Como maneira de ativar o SESC Campos, “Terra Vermelha” irá receber trabalhos inéditos, frutos da ação direta do artista na região: mudas de árvores virão a ser plantadas com apoio da instituição cultural e serão transformadas, posteriormente, em objetos de arte sob a prática de Raul, sendo exibidas em seguida na exposição. A mostra adquire, assim, uma configuração de ateliê coletivo, onde o público é convidado a ver e participar do desenvolvimento do plantio e da confecção das obras realizadas ao longo dos meses. Segundo Raul “a ideia para essa exposição surge a partir da observação da paisagem do norte e noroeste fluminense e promove um olhar sensível sobre a natureza dessa região. Há um histórico de ocupação onde podemos observar processos de degradação do meio ambiente que hoje resultam em sérios problemas. O projeto trata de uma paisagem que foi durante séculos uma presença simbólica no processo de formação da identidade nacional.”
Como afirma o curador Lucas Albuquerque, “O artista enquadra, por meio do gesto fotográfico, cenas onde a vida natural ainda se faz presente, lutando pela sua permanência. Estas são superpostas por talhos de madeira, criando uma relação direta com a produção do gênero de paisagens na história da arte brasileira feita pelos artistas viajantes ao longo dos séculos XV e XVI no Brasil, que representavam com muito apreço e curiosidade a variedade do nosso bioma. No entanto, diferentemente destas, a imagem apresentada por Raul não apresenta caráter contemplativo ou de análise, mas evidencia o risco de sua devastação”.
“Terra Vermelha” faz reverberar um tema que é de profunda importância para o futuro da região Norte e Noroeste fluminense, propondo um desejo de ação coletivo. Utilizando-se da força da imagem em toda a sua potência, busca efetuar não apenas a reflexão, mas também a prática, sugerida pelo gesto de revitalização do bioma da região em virtude de um gesto artístico.