Peter Scheier | IMS Rio

A exposição, que abre em 22 de maio, evidencia as múltiplas facetas da obra de Scheier, fotógrafo que documentou as transformações sociais do Brasil nas décadas de 1940 e 1950. No dia da inauguração (22/5), às 17h, haverá uma live com a curadora e com dois pesquisadores convidados

Após passar pela sede paulista, a retrospectiva de Peter Scheier chega ao IMS Rio no dia 22 de maio (sábado). Com curadoria de Heloisa Espada, da equipe do IMS, esta é a primeira individual de Scheier em 50 anos. Para visitar a exposição, é preciso agendar previamente via site. Também é obrigatório o uso de máscaras, entre outras medidas adotadas para garantir a segurança de todos (veja mais informações no serviço abaixo).

No dia da abertura (22/5), às 17h, haverá uma live com Espada e os pesquisadores Igor Simões, professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Sul, e Michelle Farias Sommer, pós-doutoranda na Universidade Federal do Rio de Janeiro. O debate gratuito será transmitido ao vivo no YouTube e no Facebook do IMS, com interpretação em Libras.

A exposição é resultado de uma pesquisa de dois anos no acervo do fotógrafo, que está sob a guarda do IMS e possui cerca de 35 mil negativos. Também foram consultadas coleções de outras instituições que detêm obras do fotógrafo, como o Instituto Peter Scheier, a Casa de Vidro, o Masp e a FAU-USP.

De origem judaica, proveniente da pequena cidade alemã de Glogau, Scheier aportou no Brasil em 1937, como refugiado do regime nazista. Na Alemanha, trabalhava como comerciante e contador. Já em São Paulo, no começo dos anos 1940, iniciou sua carreira no ramo da fotografia, abrindo o Foto Studio Peter Scheier, que funcionou até 1975.

Atuando em diversas áreas – eventos sociais, fotojornalismo, publicidade, fotografia industrial e de arquitetura –, Scheier registrou momentos marcantes da história do país, entre eles a 1ª Bienal de São Paulo e a construção de Brasília. Junto com outros refugiados de guerra europeus, como Alice Brill, Hans Gunter Flieg e Claudia Andujar, tornou-se um dos principais nomes da história da fotografia brasileira do século XX.

Intitulada Arquivo Peter Scheier, a exposição reúne cerca de 300 itens, entre fotografias, publicações e documentos. Um dos destaques é a coleção de cerca de 20 álbuns originais, produzidos inteiramente em papel fotográfico, nos quais Scheier editava seus trabalhos profissionais e pessoais. Há álbuns comissionados por empresas, como a Ultragaz, portfólios com exemplos das diversas áreas de atuação do fotógrafo, além de álbuns com fotos dos filhos e de viagens da família.

Scheier iniciou sua trajetória fazendo retratos e registros de eventos sociais, incluindo casamentos, batizados e formaturas. Em poucos anos, destacou-se na área de fotografia de arquitetura, tendo colaborado com profissionais como Gregori Warchavchik, Rino Levi, Carlos Bratke e Lina Bo Bardi. A exposição traz fotografias inéditas ou pouco conhecidas da história da arquitetura moderna em São Paulo.

A retrospectiva apresenta também uma seção dedicada ao trabalho de Scheier na revista O Cruzeiro, onde atuou de 1945 a 1951. Inspirada na publicação americana Life, O Cruzeiro era uma das revistas mais lidas do país. Scheier produziu cerca de 100 reportagens, tratando de temas como esportes, religião, saúde, cidades e problemas sociais, além de matérias de teor sensacionalista, como era típico da revista.

De 1947 a 1955, Scheier fotografou as atividades do Museu de Arte de São Paulo (Masp), quando trabalhou com Pietro Maria Bardi, então diretor do museu. O fotógrafo documentou obras do acervo, exposições, cursos e diversos eventos promovidos pela instituição, em imagens também presentes nesta retrospectiva.

A exposição traz ainda fotos históricas da 1ª Bienal de São Paulo, em 1951. Scheier registrou os bastidores da montagem do evento, que reuniu mais de 1800 trabalhos. As imagens mostram desde a preparação para o recebimento das obras, como a limpeza das salas, até o envolvimento de artistas e diretores de museus na montagem da exposição.

A curadora comenta a obra do fotógrafo: “Do ponto de vista formal, muitas de suas imagens – sobretudo os registros de arquitetura, da indústria e da metrópole São Paulo – constroem uma imagem idealizada dos ‘anos dourados’ no Brasil. Por outro lado, sua atuação junto à revista O Cruzeiro explicita as contradições profundas já presentes naquele processo de crescimento econômico, seja por reportagens sobre as misérias do país ou pelo viés preconceituoso e sensacionalista que caracterizava a publicação.”

A retrospectiva cria também um paralelo entre imagens realizadas por Scheier em Brasília, em 1958 e 1960, e uma fotorreportagem produzida em Israel, em 1959, quando o fotógrafo viajou ao país a convite do governo israelense. Espada analisa o diálogo entre as fotografias: “Há diversos paralelos entre a arquitetura moderna construída nos dois contextos. Além disso, tanto os registros do país fundado em 1948 quanto os da construção da nova capital simbolizam a construção de um futuro promissor, de dois grandes projetos utópicos do século XX que logo revelaram contradições de difícil solução.”

Em cartaz até 31 de outubro, a exposição apresenta um panorama da extensa obra do fotógrafo. Também evidencia as diversas camadas de seu acervo e as inúmeras possibilidades de pesquisa, como pontua Espada: “O trabalho de Scheier foi pautado pelas transformações que marcaram o fotojornalismo internacional a partir de 1930, por soluções formais de caráter moderno e por compromissos comerciais. Seu arquivo, como um todo, revela as ambiguidades de uma sociedade de muitas faces. Não apresenta uma síntese do Brasil, mas, antes, uma realidade de difícil leitura.”

Por ocasião da mostra, foi publicado um catálogo, disponível nas lojas físicas e online do IMS. Trata-se do primeiro livro monográfico sobre a obra de Scheier. Além de apresentar inúmeras imagens que não são publicadas há décadas, a publicação conta com textos inéditos de Heloisa Espada, Ilana Feldman, Eduardo Augusto Costa e Solange Ferraz de Lima.

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