Paulo Pasta | Almeida & Dale

A Almeida & Dale inaugura no próximo dia 26 de abril mais um espaço expositivo na Vila Madalena, marcando o início de uma nova etapa em sua trajetória. Para celebrar esse momento, apresenta a exposição Paulo Pasta: Viagem ao redor do meu quarto. Concebida por André Millan, diretor artístico da galeria, a mostra reúne uma série inédita de pinturas do artista, e abre oficialmente as portas do novo endereço ao público.

No processo de elaboração da mostra, Millan percebeu uma semelhança surpreendente entre o formato do novo espaço expositivo e o ateliê de Pasta. Essa coincidência acabou por influenciar a natureza introspectiva da exposição e inspirou Pasta a nomeá-la com o título do livro homônimo de Xavier de Maistre (1763–1852). Escrita durante o confinamento compulsório do autor francês em seu próprio quarto, a obra literária propõe uma viagem interior por meio da observação minuciosa dos objetos e das sensações provocadas pelo espaço íntimo — movimento que ecoa na produção pictórica do artista paulista. Aqui, no entanto, o ateliê é menos um lugar de reclusão do que de liberdade: espaço onde tempo e pintura se entrelaçam, onde a repetição se torna método, e o silêncio, matéria de trabalho.

As obras da exposição — majoritariamente óleos sobre papel ou tela, de pequenos formatos — revelam um pensamento visual rigoroso, que se constrói por sobreposições e pausas, como se cada cor e cada gesto fossem fruto de escuta. É essa arquitetura interior, derivada da experiência concreta do ateliê, que dá forma ao conjunto da exposição. No entanto, mais do que tema, a arquitetura do ateliê atua como matriz estrutural desses trabalhos: é a partir da vivência cotidiana e dos rituais do espaço de criação que a forma se organiza, como se a pintura herdasse a lógica interna do lugar onde nasce.

O crítico e jornalista Antônio Gonçalves Filho, diretor cultural da galeria e autor do texto de apresentação do catálogo, destaca esse elo entre o espaço de trabalho e a organização das pinturas. As telas, observa ele, “são como paisagens interiores que registram o trânsito do corpo no tempo”. Ao fazer da pintura um gesto contínuo de atenção e presença, Paulo Pasta reafirma a permanência de uma prática que resiste ao ruído do mundo.

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