Tarde demais para morrer jovem é o nome da exposição que o artista paulistano Paulo Ito inaugura, em 16 de novembro, na A7MA Galeria, na Vila Madalena – sua sétima exposição individual e a terceira no espaço dedicado à arte urbana. Um mergulho em um mundo de reflexão e observação, as obras, inéditas, desafiam as fronteiras do nosso conforto e convidam o espectador a explorar o que se tornou o “novo normal”, mas que muitas vezes passa despercebido em nossas vidas agitadas.
“A pulga atrás da orelha / caminhou por entre os cabelos / atravessou a sobrancelha / e na maçã do rosto fez a curva / pouco a pouco ganhou terreno / se alojando no canto do olho / mas ao invés de embaçar a vista / tornou a visão menos turva”
Com sensibilidade poética, Paulo, que agora também se dedica às letras como as do poema acima, aborda aquelas pequenas coisas que parecem não nos incomodar, mesmo quando claramente deveriam: o quadro torto na parede que nunca endireitamos, a torneira que insiste em pingar e todas as pequenas dores que carregamos, um olhar aguçado sobre o desconforto que se tornou parte corriqueira de nosso cotidiano.
Através de obras de arte, telas desconstruídas e esculturas, desafia o espectador a refletir sobre questões como as mudanças climáticas, o envelhecimento e a morte, de uma maneira irônica e saudável. O artista ambientou a sala expositiva como um ambiente terapêutico, um lugar de questionamento mental onde cada peça é um convite a examinar o quanto estamos condicionados pelos eventos externos em detrimento a um olhar claro para nosso interior. Telas fora do eixo, instaladas em planos diversos e sombras de esculturas que “dialogam” são alguns recursos utilizados pelo artista para materializar estes questionamentos.
“A crise climática é um grande divisor de águas e, apesar disso, mudamos poucos nossos hábitos de uma maneira geral”, diz o artista. “Eu acho que isso é o primeiro ponto lógico. As obras não são tão específicas como as que eu faço na rua, são muito mais diretas. Creio que a parte que ainda mais incomoda tem a ver com idade, com amadurecimento, mas também com envelhecimento. A morte é evidente, mas ninguém quer se preparar e falar sobre isso, que está explícito já no nome da exposição”, explica.