Anita Schwartz Galeria de Arte tem o prazer de convidar para a abertura da exposição Espectros (Cadeira 17), constituída por uma peça teatral mecânica de Nuno Ramos, em uma grande instalação que ocupará o espaço térreo expositivo, com oito metros de pé direito. A obra é um monumento culminante da aproximação do artista com o teatro, presente ao longo de sua trajetória.
Nuno Ramos conta que o título se refere à peça “Espectros”, do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen (1828-1906), “onde o passado, o hereditário, o inevitável, não cessam de retornar”. “Este trabalho é uma homenagem ao teatro, e principalmente à Fernanda Montenegro”, diz o artista. “Seu discurso na cerimônia de posse na Academia Brasileira de Letras é uma das fontes e inspirações deste trabalho”. “Cadeira 17” é a cadeira ocupada desde março de 2022 por Fernanda Montenegro, na ABL.
Em um trabalho exaustivo e minucioso – “infernal”, observa Nuno Ramos – elevem se ocupando da elaboração desta obra há um ano. Para construir as falas dos personagens, o artista mixou mais de sete mil fragmentos de vozes, selecionadas em arquivos históricos e na internet, em uma extensa pesquisa. “É uma homenagem ao teatro, uma fantasmagoria. Lidar com vozes pré-existentes me deu uma liberdade maior para criar o texto. Elas falam o que querem, e eu tento fazer com que falem o que quero, e desta luta saiu meu texto”, explica.
O espaço expositivo se transformará em um palco, em que estarão, como elementos cênicos, uma cortina vermelha, com cinco metros de altura, três cadeiras e uma corneta militar. A cada um desses itens, ou personagens, será associado um conjunto de vozes. O movimento em cena será dado por um sistema mecânico e automático de roldanas e contrapesos, que farão com que cortina, cadeiras e a corneta subam e desçam. A cada um dos cinco objetos cênicos corresponde uma caixa de som, que será acionada quando o contrapeso que movimenta os objetos pousar sobre ela. “Trata-se de uma ‘Peça de Teatro Mecânica’, que funciona sozinha, como uma geringonça autônoma que não precisa de atores nem de espectadores”, diz Nuno Ramos”.
São cinco grupos de vozes que darão vida a cada um dos elementos cênicos:
- Cortina: uma voz de comando, feita a partir de fragmentos de discursos de juízes do Supremo Tribunal Federal, e de áudios de jornalistas;
- Atrizes (Cadeira 3): uma “voz melancólica e fantasmática” – composta a partir de fragmentos de entrevistas e pequenos fragmentos de filmes, telenovelas e peças, encontradas em arquivos de teatro, desde a época da Atlântida e do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) – com o protagonismo de grandes atrizes. “É uma voz melancólica e fantasmática” diz Nuno. Ele ressalta, entretanto, que “a voz de Fernanda Montenegro (1929) é poderosa, ativa, propositiva”. As vozes das atrizes vão acionar uma antiga cadeira do Teatro Municipal de São Paulo.
- Profetas (Cadeira 4): uma “voz exaltada, delirante, feita a partir de pensadores e artistas que encarnam o País e o seu destino”.
- Brasil modernista, dos anos 1950 e 1960 (Cadeira 2): “voz em fuga, modal, feita a partir de entrevistas e de mínimos fragmentos de canções”.
- Engasgos (Cadeira 6): “voz de suspiros, tosse, fragmentos de palavras, ditos pelas personagens das demais caixas”.
- Corneta: toques e marchas militares, como a “Marcha da Alvorada”; “Descansar”; “Meia volta, volver” etc.
A “Peça” dura em torno de 50 minutos, e as sessões serão contínuas, com breves intervalos entre elas. Um monitor exibirá o texto, para que o público possa acompanhar as falas.
No segundo andar da Anita Schwartz Galeria de Arte estarão cinco desenhos inéditos de Nuno Ramos da série “Waiting For My Wings” (2022/2023), em carvão, pigmentos, pastel seco e cera sobre papel, com 1,50 x 1,50m.