Nesta sua segunda exposição na Central, Nino Cais, com sua métrica particular, segue “escrevendo poesias com imagens”. São inéditas instalações, fotografias, vídeos, colagens, esculturas e vestimentas que ocupam todos os espaços da galeria. Já o título, _A conquista da lua_, traz o tom de seu processo – desvendar e provocar surpreendentes relações – , já que o pisar na lua pode também ter sido uma jogada do homem, segundo muitas teorias conspiratórias sobre a Guerra Fria. Para o artista, esta exposição tem ainda o sentido de reconstrução de repensar o próprio trabalho nestes 15 anos de carreira.
Ao utilizar o conceito de apropriação em sua obra, Nino sublinha uma atuação que vive em permanente interesse pelo outro. Contaminação é palavra recorrente em seu vocabulário. Não é por acaso que nesta mostra estabelece parcerias. Em uma delas o artista convidou a estilista
Fernanda Yamamoto para, juntos, construírem vestimentas _Alegorias _(2014/2015), obra que dialoga com a série de 43 retratos retirados do antigo livro _Las Razas Humanas – África, América e Europa” _(2014/2015), cujos rostos identificam culturas pelos acessórios. “As túnicas que fizemos são alegorias, a representação de algo, e estarão lá à espera de um ritual”, diz o artista.
Já no vídeo (2015), em que se apropria de uma pintura do dinamarquês Vilheim Hammershoi (1864-1916), conhecido por suas telas de atmosfera intimista, Nino conta com a atuação da atriz Barbara Paz. “Esta pintura sempre me comoveu, sugere a espera de alguém que não vai vir, um drama sutil num cenário delicado”, afirma.
Por sua vez, o texto sobre a exposição está sendo feito pelo escritor angolano radicado em Portugal Valter Hugo Mãe, parceria e amizade que já renderam dois livros: _O Apocalipse dos Trabalhadores_, com capa de Nino (Cosac Naify , 2013); e _O Paraíso_ _são os outros_, quando o escritor se deparou com a série do artista _Falsos Brilhantes_ e criou a história, resultando no livro com as imagens dos trabalhos. (Cosac Naify, 2014).
Mas as suas apropriações tanto podem surgir de obras de outros artistas, como acontece também em _Taturanas _(2014), na qual se apropria de um trabalho de Beuys, quanto de autores anônimos. Trata-se de uma “palheta” que mistura elementos eruditos a curiosos e ordinários, os quais o artista coleciona para transformá-los, “como um colaborador das invenções do mundo”.
Com este baú de materiais e com seu próprio corpo, Nino trabalha pouco preocupado com verdades ou mentiras, conquistas ou fracassos, mas em sintonia com a dúvida. A série de fotografias _Mãos_ (2014/2015), um dos outros trabalhos presente na exposição, dá o tom de uma arte construída por intrigantes metáforas visuais para alcançar e comunicar o seu maior interesse – o humano.
NINO CAIS (1969, SP) concluiu o bacharelado e a licenciatura em artes plásticas na Faculdade Santa Marcelina (Fasm) em São Paulo, onde apresentou em 2000 a exposição individual A Trama Refeita. Desde então participou de diversas exposições no Brasil, como a 30ª Bienal Internacional de São Paulo (2012) e a 3ª Bienal da Bahia (2014), bem como no México, França, EUA, China e Portugal e Lituânia, onde teve seus trabalhos expostos na Kaunas Art Biennial TEXTILE 07. Em 2014, ele abriu uma importante exposição individual no Paço das Artes. Nino Cais vive e trabalha em São Paulo.