“Òná Ìrín: Caminho de Ferro“, exposição individual da artista baiana Nádia Taquary, está disponível para a visitação no MUNCAB (Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira), localizado em Salvador. A mostra documenta a complexa conexão entre o feminino sagrado e os fluxos da dinâmica da vida.
Em Iorubá, Òná Ìrín significa “caminho de ferro”, remetendo à trajetória de povos africanos para as Américas e sua resiliência espiritual inquebrantável. A exposição elege o trânsito ferroviário intenso como metáfora, com linhas de trem que se multiplicam em infinitos destinos, perspectivas e encruzilhadas, para celebrar a poética do movimento e da comunicação, onde o orixá Exu se alimenta, e da tecnologia, reverenciada na figura de Ogum, para que todos os caminhos se abram.
Legado
Conectada ao movimento vital, a mostra também estende as homenagens às Ìyàmi Aje, figuras místicas que representam o poder feminino africano. Associadas a figuras como Iemanjá e Oxum, essas deidades são evocadas para discutir o empoderamento das mulheres nas sociedades pré-coloniais africanas e na diáspora.
Outro destaque da exposição, vinculado ao universo feminino negro, são as joalherias afro-brasileiras, arbitrariamente conhecidas de “joias de crioulas”. É como são conhecidos os balangandãs, adornos robustos que carregam o metal em sua composição, usados por mulheres negras no Brasil colonial, em especial na Bahia. Essas peças são marcadores de poder, identidade e espiritualidade.
Contemplação
A arquitetura expositiva, assinada por Gisele de Paula, utiliza instalações de trilhos ferroviários para evocar o movimento e a tecnologia. Linhas férreas repetidas sugerem uma jornada infinita de lutas e resiliência negras. Esculturas de mulheres aladas e sereias, como a representação de Iemanjá, reforçam a conexão dos poderes femininos com os ancestrais.
Tons escuros e elementos metálicos destacam a riqueza cultural africana e sua diáspora. O uso de espelhos multiplicam as imagens da sala expositiva, convidando o público a uma experiência caleidoscópica e imersiva.
Para Nádia Taquary, a exposição é uma celebração das raízes africanas e um diálogo entre espiritualidade afro-brasileira. “Sacralizar o ferro e invocar símbolos como Ogum e as Ìyàmi Aje é destacar a complexidade da ancestralidade africana e sua relevância no presente”, avalia a artista.