Inaugurada há pouco mais de dois anos, em junho de 2022, a Galatea anuncia sua expansão com a abertura de mais um espaço em São Paulo. A nova sede da galeria está instalada em uma construção icônica da arquitetura brutalista: o Edifício Thais, localizado na Rua Padre João Manuel, nos Jardins. A primeira mostra na unidade será Montez Magno: entre Morandi, Nordeste e Tantra, individual do artista pernambucano Montez Magno (1934-2023), que terá início em 29 de agosto. Com curadoria de Tomás Toledo, a exposição apresenta uma coleção expressiva das obras de Montez, cuja trajetória é reconhecida pela fusão de elementos da cultura popular nordestina com experimentações geométricas e conceituais.
O texto crítico da exposição é assinado por Clarissa Diniz, curadora, pesquisadora e importante divulgadora do trabalho de Montez nos últimos anos. O ensaio de Diniz integra o livreto da mostra, que também traz a reedição inédita de um ensaio publicado por Montez em 1978, intitulado A forma popular construtivista. As ideias defendidas no texto do artista se materializam na série Barracas do Nordeste (1972-1993), um dos pilares da exposição.
A mostra se divide em dois eixos e ocupa os dois espaços da Galatea: na Rua Oscar Freire estão concentradas as pinturas de grande formato, pouco exploradas em exposições recentes do artista. São 22 trabalhos que se baseiam em tradições estéticas alternativas a paradigmas eurocentrados, dialogando com o que o artista chamou de “arte popular geométrica”. Este eixo inclui obras das séries Barracas do Nordeste e Portas de Taquaritinga(1983), além de peças que refletem o interesse de Montez pelo zen-budismo e hinduísmo, como a série Tantra (1963-2006).
Já na rua Padre João Manuel, em meio a 30 obras estão expostas três pinturas da série Morandi (1964/1972/2000) e trabalhos abstratos criados tanto no período inicial de sua produção, como a pintura Abstração Geométrica(1957), quanto em sua maturidade, como a série Teares de Timbaúba (1979-1998), além de uma seleção de obras em torno das práticas e investigações conceituais, textuais e cartográficas de Montez.
Segundo o curador Tomás Toledo: “Montez Magno é uma artista que se define por sua polifonia. Sua produção artística e intelectual altamente sofisticada, que misturava referências eruditas e populares, por muito tempo foi marginalizada pelo meio artístico sudestino, e agora passa a ganhar o merecido destaque, como foi visto em sua individual na pinacoteca do São Paulo em 2023. A exposição Montez Magno: entre Morandi, Nordeste e Tantra, que ocorre nos dois espaços da Galatea em São Paulo, apresenta e celebra justamente toda a polifionia e multiplicidade do artista.”
O título da mostra faz referência tanto a séries de trabalhos que são apresentados quanto a três universos que compuseram o imaginário de Montez Magno. Há as pinturas que partem da admiração de Montez pelo pintor italiano Giorgio Morandi (1890-1964) e que representam a sua prática de comentar outros artistas e de citar as vanguardas europeias; há o Nordeste, referência ao seu contexto de vida e à série Barracas do Nordeste (1972-1993), baseada nas geometrias vernaculares; e, por fim, Tantra, referência a um conjunto de trabalhos que exploram com originalidade o universo da filosofia tântrica e os ensinamentos de matrizes de pensamento não ocidentais.
Clarissa Diniz, em seu texto crítico, reflete sobre a influência de Morandi na obra de Montez: “No encontro de Montez com [Giorgio] Morandi, o pernambucano elaborou percepções que se tornaram definidoras de parte significativa de suas concepções poéticas, estéticas e políticas acerca da prática artística. Foi observando a pintura morandiana que, esgarçando a funcionalidade representativa da tradição das naturezas-mortas, Magno compreendeu que o caráter contemplativo da arte acontecia também para além da geometria ou da construção.”
Montez Magno: entre Morandi, Nordeste e Tantra ainda apresenta duas propostas diversas no âmbito da expografia: na Oscar Freire, as pinturas de grande formato são fixadas em estruturas que se inspiram nas criações dos arquitetos e designers italianos Franco Albini, Carlo Scarpa e Lina Bo Bardi. Já na unidade da Padre João Manuel, o ambiente convida a uma experiência intimista, e a expografia de caráter mais convencional permite que a arquitetura brutalista da nova unidade da galeria sobressaia.