A galeria Galatea apresenta 60 obras da série Toquinhos em exposição da artista suíça radicada no Brasil Mira Schendel. Em uma iniciativa inédita, a mostra reúne um conjunto abrangente de trabalhos dessa série que foi produzida, principalmente, entre 1972 e 1974. Com texto crítico da curadora e crítica de arte Lisette Lagnado, Mira Schendel: Toquinhos também é a primeira individual da expoente da arte contemporânea em solo brasileiro nos últimos cinco anos. A última apresentação exclusiva da artista ocorreu em 2018, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em ocasião dos 30 anos de sua morte.
Após ter sido presenteada pelo amigo Mario Schenberg, crítico de arte e importante físico brasileiro, com uma enorme quantidade de papel de arroz japonês, Mira criou cerca de dois mil desenhos que compõem a série Monotipias, produzida principalmente entre 1964 e 1967. Ao continuar experimentando com esse material, criou outras séries, como os Objetos Gráficos, produzidos sobretudo entre 1967 e 1973. São trabalhos compostos por folhas de papel de arroz repletas de rabiscos, traçados, rasuras, tipos datilografados e letraset inseridas entre duas placas de acrílico suspensas por fios de nylon e dispersas no espaço, longe das paredes, jogando com a luz, o dentro e o fora, a frente e o verso. Progressivamente, o desenho, a escrita cursiva e a rasura passaram por um processo de síntese no trabalho de Mira, chegando ao que o ensaísta alemão Max Bense chama de “reduções gráficas”. As obras da série Toquinhos apresentadas nesta exposição demonstram bem esse processo.
Mira Schendel: Toquinhos apresenta trabalhos em que a artista cria camadas colando sobre o papel japonês recortes geométricos (tingidos ou não) do mesmo papel, normalmente acompanhados de sinais de pontuação e letras. Ao ser questionada, em 1975, pela jornalista Norma Couri: “Por que letras?”, Mira responde: “São o pré-texto ou o pretexto do pós-texto”. Comentando tal diálogo, o teórico Geraldo Souza Dias afirma, em sua monografia sobre a artista intitulada Mira Schendel: do espiritual à corporeidade (2009): “A completa redução da forma a círculos e retas, desenvolvida nos tipos sem serifa da fonte Futura, a preferida da artista, permite considerar a relevância ótica das letras enquanto elementos de um conjunto. Nos trabalhos de Mira, o significado original dos sinais caligráficos – letras e números – transforma-se pela ação da letra autocolante, assumindo um caráter novo, puramente plástico.”