Mema Rio Branco | Fundação Stickel

A exposição “Parece Pintura” traz uma seleção cuidadosa das fotos de Mema Rio Branco, artista que há mais de uma década captura o cotidiano com seu olhar único e afetivo. A curadoria de Oswaldo Correa da Costa sobre seu extenso acervo destaca imagens que evocam pinturas. Ordenadas pela luminosidade, as fotografias criam uma narrativa visual no Espaço Fundação Stickel evidenciando seu tema principal, a própria luz.

Em julho de 2012, Mema Rio Branco abriu uma conta no Instagram e postou uma foto. Três dias depois, outra, e depois, mais uma. E assim por diante, continuamente. Fotos do cotidiano, despretensiosas, mas que refletem um ponto de vista eclético, afetivo, refinado. Mema vive há mais de vinte anos em Roma, onde a vocação estetizante tem a idade das colinas.

Das quase dez mil fotos escolhemos uma centena, extraídas de um par de anos recentes, foram pinçados apenas alguns aspectos, um recorte, como dizem, que remete a um todo imensamente mais rico e variado, ao alcance de todos a poucos cliques de distância.

É informativo ver, no Instagram da Mema, o conteúdo dos comentários. Talvez o comentário mais constante seja “parece uma pintura”. Algumas das escolhas para essa exposição foram guiadas por este comentário recorrente, tanto em sua encarnação abstrata quanto figurativa. As fotos que aparentam ser mais abstratas servem, também, para contestar o colete que confina a fotografia, desde o seu surgimento, à representação de maneira documental, mesmo com viés artístico.

Parte da graça das fotos de Mema é a facilidade com que elas nos seduzem, nos transformam em cúmplices. Os detalhes que encantam esse olhar atento e perspicaz nos encantam também, de tal maneira que cada foto compartilhada parece um gesto de generosidade, como quem nos sopra “olha aqui, gostaria que você visse isso”. Acima de tudo — e mais do que os agrupamentos de paisagens, quase-abstrações, e arquiteturas aos quais se concentra a exposição, o assunto dessas fotos é a essência literal do meio fotográfico: a luz, que aparece aqui em todas as suas gradações.

Pretendemos ordenar as fotos da exposição Parece Pintura em ordem crescente ou decrescente de luminosidade, com três propósitos: imbuir cada conjunto com a aparência, subliminar ou explícita, de um ordenamento coletivo, como costumamos ver em cardumes de peixes ou revoadas de pássaros; diminuir o quociente de subjetividade e propiciar combinações impensadas que, pela lei natural dos encontros, possam surpreender.

Oswaldo Correa da Costa

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