Mateus Moreira | CASA FIAT DE CULTURA

Desespero, Mateus Moreira | FOTO: Fernanda Campos

Em meio a um bombardeio incessante de imagens e notícias, a vivência no mundo contemporâneo se mostra conflituosa. Dúvida e caos sobem ao palco. Como dar vazão a esses sentimentos angustiantes? Como resistir às opressões cotidianas? Para o artista plástico Mateus Moreira, as respostas se manifestam em tinta. Na exposição “Desolação”, situações que carregam significados ambíguos na memória humana e na própria existência do artista tomam forma em 15 pinturas a óleo. Nelas, o aspecto de cada pincelada convida à atmosfera inebriante das manchas, trazendo uma feroz analogia à realidade. A mostra, escolhida no 4º Programa de Seleção da Piccola Galleria, fica em cartaz de 5 de outubro a 28 de novembro e poderá ser visitada virtualmente, pelo site e redes sociais. Além do tour virtual 3D, serão oferecidas vistas virtuais mediadas. Para abrir a exposição, a Casa Fiat de Cultura realiza um bate-papo online ao vivo com o artista, no dia 5 de outubro, às 19h. A participação é gratuita, com inscrição pela Sympla.

A mostra apresenta imagens de um mundo estremecido. A fronteira entre sonho e realidade é abolida, misturando o onírico e o existencial, em espaços abertos e de grande tensão, sugerindo a ideia de que tudo acontece ao mesmo tempo. O artista busca reagir ao fulgor distópico atrelado ao convívio em sociedade, em uma tentativa de resistência ao sentimento de violenta opressão que maquina sobre as pessoas. As 15 pinturas despertam um sentimento em comum: o de desolação. Daí, o nome da exposição, que, embora não seja vinculada a um acontecimento especial, evoca a força interna dos fatos, por meio de composições imaginadas e reais. “A pintura é um lugar em que posso expressar meus sentimentos em relação às atuais condições sociais, políticas e afetivas, em uma realidade em que a esperança é duvidosa”, reflete Mateus Moreira.

Com referências artísticas como os pintores Claude Monet – que desbravou o universo da luz e da paisagem – e Alberto Giacometti – que teve a coragem e a persistência de migrar sua obra do surrealismo para o expressionismo –, Mateus Moreira expressa em tinta a sua percepção sobre fragmentos de vivências e do cotidiano. Sua pintura nasce abraçando a intuição, por meio de gestos rápidos e misturas fluidas. A cor surge da primeira tinta que suja o pincel na paleta. O tom predominante e a luz determinam a construção dos acontecimentos, em formas pictóricas que, ao final, resultam na obra singular do artista. “O processo de experimentação é constante e a despretensão é intrínseca. Quando o acúmulo de cores e matéria me intuem a parar, me distancio desse delírio”, explica.

A exposição “Desolação” é uma realização da Casa Fiat de Cultura, com apoio do Ministério do Turismo, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, patrocínio da Fiat, do Banco Safra e da Gerdau, copatrocínio da Expresso Nepomuceno, da Sada, do Banco Fidis e do Mart Minas. A mostra tem apoio institucional do Circuito Liberdade, do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico (Iepha), do Governo de Minas e do Governo Federal, além do apoio cultural do Programa Amigos da Casa, da Brose do Brasil e da Brembo.

Exilio, Mateus Moreira | FOTO: Fernanda Campos

Sobre as obras

A exposição “Desolação” é composta por 15 pinturas a óleo. Cada obra nasce de um impulso inicial, catártico, incerto, gestual e necessário, para, só então, se transformar em paisagem. Mateus Moreira destaca que o próprio espaço da imagem começa a sugerir suas condições, como as diversas possibilidades de cores, formas e acidentes pictóricos. “Me identificar nesse processo é fundamental. É necessário perceber o que há de mim ali, ainda que eu não tenha a compreensão dos significados. Existe algo inconsciente que deseja se manifestar em tinta, e eu realizo inúmeras tentativas até que o todo esteja em união”, analisa.

As obras são marcadas pelos flagelos de uma época violenta, dissolvida por mudanças espirituais e cicatrizes históricas. Revelam dramas de humanidade que ora está temerosa, ora indiferente. Em “Desolação”, o público é apresentado ao rastro de destruição que se perpetua em nossas angústias. De forma plástica, convida para a reflexão sobre como nos condenamos com nossos próprios erros e temos as vivências atravessadas pela distorção da realidade.

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