Marlon de Paula | Sesc Barra Mansa

O Sesc Barra Mansa inaugura no dia 5 de julho, às 15h, a exposição Terra Vinga, do artista mineiro Marlon de Paula, com curadoria de Joyce Delfim. A mostra reúne um conjunto de obras que propõem uma reflexão crítica e sensorial sobre os impactos da mineração e da exploração colonial no território brasileiro — um tema que ganha ainda mais força ao ser apresentado em uma cidade historicamente marcada pela presença da Ferrovia do Aço. A visitação segue até 5 outubro, com entrada gratuita (de terça a sexta, das 10h às 20h; sábados, domingos e feriados das 10h às 17h). Durante o período expositivo, será lançado um catálogo da mostra.

Terra Vinga explora como o imaginário colonial — alimentado por mitos como o da Serra de Sabarabuçu e pelas promessas de riquezas minerais — moldou não apenas a paisagem física, mas também as estruturas sociais e econômicas do país. A exposição aborda as marcas dessa lógica extrativista, que desde o período colonial até o capitalismo industrial segue impactando ecossistemas e comunidades.

“Gosto de convidar as pessoas a pensar o que ‘Terra Vinga’ pode significar para elas. Faço esse jogo com a palavra ‘vingar’, tanto no sentido de vingança quanto de algo que se perpetua, que sobrevive. Como quando uma parteira reencontra uma criança que vingou. Acho importante que quem vá à exposição reflita sobre isso”, afirma Marlon.

“Em Terra Vinga, o artista Marlon de Paula evoca uma terra sujeito, mas não só. Reconhecida em seu lugar de não-recurso, Terra não só possui direitos como também revida a violência de seus algozes.”, complementa Joyce, no texto curatorial, ao sintetizar o espírito da mostra.

No conjunto de obras selecionado pela curadora, o público poderá ver fotomontagens, instalações, videoperformance e fotografias que combinam imagens autorais, documentos de arquivo, e gravuras históricas. Em peças como Pulmão de Pedra, que reúne uma radiografia de tórax e elementos visuais associados à mineração, ou na fotoinstalação Rio das Mortes, o artista tece narrativas visuais que conectam corpo, território e história.

Entre os destaques da mostra está a instalação fotográfica Mil dias, que aproxima visualmente duas ferrovias: a Ferrovia do Aço e o mineroduto Minas-Rio. A instalação é baseada em registros históricos como os de Marc Ferrez, que documentou a construção da ferrovia entre 1881 e 1884, e traz imagens que retratam as transformações ambientais e morfológicas provocadas por essas infraestruturas de escoamento de produção agropecuária, durante o período imperial, e mineral, durante a ditadura militar. A instalação busca transcender a bidimensionalidade da fotografia, criando um ambiente sensorial que convida o público a percorrer fisicamente um espaço inspirado no traçado das ferrovias na Serra da Mantiqueira. 

Apresentar a exposição em Barra Mansa potencializa ainda mais esse diálogo: a cidade, localizada no Vale do Paraíba, foi um importante entroncamento ferroviário desde o século XIX, integrando as rotas que escoavam minérios e outras riquezas do interior para o litoral. Até hoje, a linha férrea corta a malha urbana e permanece ativa, transportando sobretudo cargas industriais e minerais. Além de sua função logística, a ferrovia faz parte da memória afetiva e histórica da cidade, que mantém iniciativas de preservação do patrimônio ferroviário, como a antiga Estação Barra Mansa. Nesse contexto, a instalação Mil dias estabelece uma conexão direta com o território local, convidando o público a refletir sobre como infraestrutura e exploração caminharam — e ainda caminham — juntas.

A exposição – contemplada pelo edital Sesc RJ Pulsar 2025 – conta ainda com ações de acessibilidade, incluindo fotografias táteis e conteúdo de audiodescrição para obras selecionadas.

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