A mostra mergulha ainda mais fundo na pesquisa intitulada Correria, que Marcos desenvolve desde 2019 e deu nome ao primeiro projeto do artista na galeria, em 2022. A série de obras se debruça sobre os trabalhadores de rua informais e suas ferramentas de trabalho, em situações que o artista vive, observa e inventa influenciado pelo território do Recôncavo Baiano, onde mora e produz. “As imagens são ambientadas dentro de casa e nas ruas, refletem aspectos íntimos, pessoais e também culturais e sociais, em relação com outros elementos como a arquitetura, por exemplo. Para desenvolver as obras antes eu crio cenas, utilizando da fotografia e da foto-performance, em um exercício de me imaginar desenvolvendo essas diferentes atividades, vivenciando essas diferentes histórias, ou de deslocar tempos e espaços para criar uma realidade da qual eu sou apenas observador, narrador”, comenta Marcos.
Entre as obras, pinturas em acrílica sobre tela, a maioria produzidas em 2024, destacam-se inúmeras referências às manifestações culturais, inclusive sincréticas do Recôncavo, aos personagens que habitam as ruas de Cachoeira, às ferramentas onipresentes na vida doméstica e as afetividades cultivadas pelo artista ao longo dos anos. Ainda ganham espaço no conjunto composições que tiram partido do ambiente do parque de diversões itinerante, daqueles que estaciona de tempos em tempos pelo interior da Bahia, povoado ora por atrações estáticas, ora por personagens que propositadamente escolhem o anonimato, adicionando uma nova camada, mais lúdica, ao dia a dia do trabalhador. Um misto de brincadeira e “sobrevivencialismo”, absurdo e realidade.
“Seja nos cenários deslocados ou nas narrativas aparentemente incompletas, esse duplo entre ficção e documentação traz à superfície relações e tensões com as ditas “informalidades” desde a perspectiva do trabalhador. Assim, o que se convenciona chamar de informal é, na verdade, revelado como a operação mais formal da captura do trabalho pelo capital de viés racial de modo transtemporal. Entender a si e aos nossos pares como trabalhadores não significa apenas um meio de expressão dessa performance, mas apontam para um conjunto de instrumentos e técnicas sociais com as quais é possível realizar a vida e ao mesmo tempo produzir o espaço”, finaliza o curador Tarcísio Almeida.