Entre os dias 22 de novembro e 24 de dezembro, a Galeria Manoel Macedo, localizada na Rua Lima Duarte, 158 – Carlos Prates, em Belo Horizonte, recebe a exposição Dobra e Desdobra da Espinha Dorsal, que convida o público a atravessar camadas onde memórias e simbolismos se entrelaçam em uma narrativa visual intensa e enraizada. Sob a curadoria de Maria Angélica Melendi e Luciana De Oliveira, o trabalho de Marconi Marques revela um caminho de experimentação e resgate de raízes profundas, refletindo sua trajetória artística entre o poético e o urbano. Em cada eixo, a exposição desdobra fragmentos de sua história, evocando tanto o concreto das cidades quanto o místico das tradições que moldaram sua visão. “Sinto que meu trabalho percorre um ‘labirinto interior’, onde os elementos culturais e urbanos se fundem para revelar uma espécie de coluna vertebral simbólica”, explica Marconi.
O primeiro eixo da exposição, situado no salão maior da galeria, reúne obras que datam de 2004, na série intitulada “Cavaletes”. A instalação é composta por pinturas-objetos que desafiam o espaço convencional, explorando o que há dentro, atrás e através das estruturas. Essa configuração é uma forma de “aspirar ao labirinto”, segundo o próprio artista, e cria um ambiente multifacetado com figuras humanas, letreiros e cores vibrantes. Essas peças já foram exibidas anteriormente na Galeria de Artes Copasa e no Palácio das Artes, estabelecendo-se como um marco da pesquisa de suportes que define o trabalho de Marconi Marques.
Natural de Jordânia, no Vale do Jequitinhonha, Marconi traz para a obra a experiência de quem cresceu entre as tradições populares e o cenário urbano. Formado pela Escola Guignard da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), o artista passou a juventude trabalhando com pinturas vernaculares em murais e propagandas populares no norte de Belo Horizonte. Essa vivência, associada a suas raízes culturais, transforma-se em uma “coluna vertebral” para a exposição, como descrevem as curadoras, revelando uma sinergia entre o mundo simbólico e o cotidiano urbano. “O Marconi é como um tradutor visual, que consegue tecer a complexidade da identidade brasileira, entrelaçando as camadas ancestrais e contemporâneas do que somos”, comenta Melendi.
No segundo eixo, o desdobramento da exposição segue com retratos de Mestres de Saberes Tradicionais ligados às culturas afro-brasileira e indígena. Essas obras destacam personagens que atuam tanto em suas comunidades quanto no âmbito acadêmico. Na parede oposta, a série Re-vendo Sonhos captura uma realidade onírica, com imagens que provocam uma leve ilusão de ótica ao serem pintadas sobre placas de eucatex côncavas. Essa técnica não apenas imprime profundidade visual, mas também evoca uma sensação de vertigem e conexão com uma dimensão mais subconsciente.
Ainda no segundo eixo, outra série intitulada Cabeças de Cajados adiciona uma camada tridimensional à exposição. Esses trabalhos surgem de galhadas de madeira recolhidas pelo artista em áreas de mata e terrenos baldios, transformadas em esculturas por meio de entalhes e pinturas. Para as curadoras, essas peças remetem a uma memória ancestral, lembrando elementos de cosmologias originárias como a serpente emplumada, provocando reflexões sobre a temporalidade e a espiritualidade. “É uma proposta que permite ao visitante sentir as raízes como força contínua, algo que ele pode tocar e que permanece em transformação”, destaca Luciana De Oliveira.
O terceiro eixo, Obras em Cura, revela o lado mais experimental e em processo do artista. Aqui, Marconi explora uma pluralidade de materiais e técnicas, mas mantém a pintura como elemento central. Esse trecho da exposição propõe ao público uma reflexão sobre a ideia de cura e transformação, aspectos que o artista considera fundamentais em sua prática e que permeiam as múltiplas camadas da exposição. “Vejo a arte como um processo de cura, de reconexão comigo mesmo e com a minha ancestralidade. É como se cada pincelada levasse de volta ao meu ponto de origem”, reflete Marconi.
Maria Angélica Melendi, uma das curadoras, enfatiza a importância da obra de Marconi Marques no contexto da arte contemporânea brasileira. Para ela, o artista representa uma ponte entre o urbano e o ancestral, sendo um “tradutor visual de memórias e do espaço que ocupa”. Luciana De Oliveira, co-curadora, complementa, ressaltando como Marconi utiliza suas obras para reconfigurar a relação do público com o espaço expositivo, ampliando a compreensão sobre o território e a identidade.
A exposição “Dobra e Desdobra da Espinha Dorsal” fica em cartaz na Galeria Manoel Macedo de 22 de novembro a 24 de dezembro, proporcionando ao público uma imersão nas múltiplas linguagens e simbolismos do artista. A mostra é uma oportunidade para explorar o que Marconi Marques chama de “dorso” de sua obra, onde as dobras e desdobramentos se materializam em uma narrativa rica em texturas, cores e significados, evocando tanto o presente quanto as memórias de sua origem no Vale do Jequitinhonha.