É fácil concordar que artistas fazem arte. Ainda assim, não é tão simples chegar a um consenso sobre o que, de fato, é arte. Afinal, arte é algo múltiplo e indefinível: a cada obra um artista é capaz de inventar diferentes modos de materializar esse conceito. Assim, em O que fazem os artistas, lançado agora pela editora Cobogó, o escritor Leonard Koren, autor do sucesso mundial Wabi-Sabi: Para artistas, designers, poetas e filósofos (Cobogó, 2019), discute a criação artística a partir de perfis de grandes nomes – examinando como e por que cada um deles produz arte.
Koren concentra-se em sete artistas: Marcel Duchamp, John Cage, Donald Judd, On Kawara, Richard Serra, Christo Vladimirov Javacheff e Jeanne-Claude Marie Denat. Ainda que seus trabalhos abranjam apenas um pequeno espectro de estilos e suportes, são capazes de representar visões, caminhos e propósitos artísticos bastante diversos. Alguns transformam o nada em algo, criando todo um universo significativo, enquanto outros buscam a contemplação em meio a mundo rápido e barulhento ou fazem com que as pessoas enxerguem a realidade de modos novos e específicos. E há ainda aqueles que produzem arte justamente para determinar o que é arte – convencendo o público a embarcar em seu inusitado conceito de criação.
“Este livro parte da premissa de que a arte é importante porque ela faz parte da dimensão nebulosa e não quantificável da realidade que nós costumamos chamar de ‘poética’”, escreve o autor. “A religião, a magia, até mesmo o amor, a beleza e outras formas de compreensão não racionais também entram nessa categoria. O poético transcende os imperativos práticos da vida – e ainda assim é um dos alicerces das identidades que criamos para nós mesmos. O poético é também, sobretudo, uma fonte de alegria, esperança, prazer e reflexão”, completa.
Em um texto leve, fluido e instigante, o autor pontua as histórias desses artistas com frases de outros criadores. David Bowie, por exemplo, achava que “a coisa mais interessante para um artista é vasculhar os destroços de uma cultura, olhar para o que foi esquecido ou que não foi levado a sério”. Já na visão de Ad Reinhardt podemos encontrar o sentido da arte “olhando não apenas para aquilo que os pintores fazem, mas para aquilo que se recusam a fazer”. Lawrence Weiner pensa um pouco diferente: para ele, “todo mundo quer encontrar sentido no conjunto das obras de um artista, mas na realidade não é para fazer sentido, e sim ter significado”. Mas, como disse Robert Rauschenberg, arte pode ser também, simplesmente, “a melhor maneira que encontrei de conviver comigo mesmo”.
Como o próprio autor ressalta, há tantas maneiras de ser artista quanto há pessoas no mundo. O que une os artistas são conteúdos, espíritos e metodologias completamente diferentes de qualquer outro tipo de trabalho. E Koren mostra isso de maneira original, fazendo de seu pequeno livro sobre arte uma obra de arte por si só.