As artistas visuais Liana d’Abreu e Tuchi Niederhageböck criaram, com técnica e inventividade, autorretratos para a exposição “AUTO retrátil”, com curadoria de Gustavot Diaz.
“Meu trabalho com autorretrato é uma conversa íntima, uma busca de autoconhecimento num processo que vem se desdobrando desde 2013. Começou comigo me misturando com a minha mãe. Depois de um tempo comecei a abstrair a minha mãe do processo, sem me dar conta. Vivendo um luto tardio, surgiram trabalhos artísticos com essa temática, nos quais usei grafite, carvão e acrílica. O autorretrato é um meio de autoconhecimento bastante potente”, diz Liana, que atuou no meio das artes em Brasília, onde morou por 10 anos.
Tuchi, formada pelo Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), conta, por sua vez, que nos últimos tempos perdeu pessoas queridas e os filhos tomaram seu rumo. “A casa que estava sempre cheia de repente ficou vazia. Bateu a ‘síndrome do ninho vazio’, libertadora e ao mesmo tempo opressora e angustiante. As pinturas tentam transmitir a opressão e os desenhos a carvão são alegorias dos sentimentos de angústia. Percebi que meu ninho nunca será vazio, pois é composto de todos os afetos que de alguma forma contribuíram para ser quem sou”.
O curador, que é professor de desenho, artista visual e mestrando em Filosofia da Educação na USP, entende que Liana e Tuchi empreendem “uma busca radical ao abismo de si” na atual fase de suas carreiras, mas observa que não há um “si mesmo” – “esse si é menos próprio do que desejamos. Quando olhamos o abismo da alma ela não nos olha de volta – na tensão da interioridade encontramos redes de afeto, família, amigos, amores, todo o repertório afetivo que, na realidade, nos guia”, reflete Gustavot.
De acordo com o curador, Liana tem a coragem de desfigurar-se em busca de uma expressão mais autêntica de si. “Acompanhei seu empenho na produção de desenhos onde, incansavelmente, a autoimagem era desconstruída para logo aparecer e ser outra vez desarticulada, e assim por diante”. A artista apresenta oito desenhos de 100 x 0,70 cm e duas esculturas de cerâmica, uma de 34 cm e a outra de 26 cm.
Já Tuchi, conforme Gustavot, é bastante meticulosa, sua produção exige horas de empenho técnico e dedicação. “Chama a atenção a densidade conceitual dos trabalhos, abordar os difíceis temas da síndrome do ninho vazio e das implicações da sobre identificação com a própria imagem”. A artista exibe três desenhos de 100 x 0,70 cm, dois painéis (de 2,20 m x 0,80 cm e de 1,30 m x 0,85 cm) e, ainda, uma obra participativa de 2 x 2 m.
Liana e Tuchi tornaram-se colegas e amigas há cerca de 10 anos, no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre. De lá para cá, fizeram oficinas, workshops e cursos juntas, entre os quais o de desenho e pintura com Gustavot Diaz.
“Unindo primor técnico e inventividade, Liana e Tuchi compartilham a síntese de um acúmulo que exibe dois procedimentos distintos de trabalho que abrem um diálogo profundo com o público”, avalia o professor e curador.