Laurie Gane | Espaço8

Simulacrum é a primeira exposição individual do verterano multiartista britânico Laurie Gane no Brasil, que acontece no Espaço8 Casa Cultural e celebra a pluralidade de seu itinerário artístico ao exibir o recente trabalho fotográfico do artista e um recorte de sua produção audiovisual, com curadoria de Felipe Abramovictz, pesquisador de audiovisual e multimeios da Unicamp.

Laurence Gane, nascido em 1943 e ativo ainda hoje, é um personagem dos mais interessantes em sua múltipla atuação cultural no contexto da contracultura londrina: ali fundou uma banda de rock que se transformaria na lendária The Yardbirds, atuou como fotógrafo e técnico de laboratório, pertenceu aos círculos do cinema experimental ligado à London Film-makers Cooperative, da qual foi um dos fundadores em 1966, lecionou na Open University e no Royal College of Arts e publicou um livro sobre o pensamento de Nietzsche. No início dos anos 1970, colaborou com cineastas brasileiros exilados em Londres como diretor de fotografia dos longas-metragens “Memórias de um Estrangulador de Loiras” e “Amor Louco”, ambos de Júlio Bressane; “Night Cats”, de Neville de Almeida; e “O Demiurgo”, de Jorge Mautner. Gane também evoca sua relação com o cinema experimental inglês nas décadas de 1960 e 1970 e com a cena contracultural londrina.

Em destaque na exposição Simulacrum, a investigação que Laurie desenvolve desde a década de 1960 em relação às fronteiras entre a ética e a estética nos dispositivos fotográficos, seja em 16mm– caso dos filmes criados a partir de suas conexões com a cena do cinema experimental britânico (em Earthlight, 1969, destaque para a aproximação com o nascente cinema estrutural)  ou mesmo através de imagens feitas com seu celular, caso dos phototexts. Nessas obras, Laurie Gane explicita seu tratamento iconoclasta e irônico na forma como lida com a apropriação de imagens, através de dois dispositivos que se interconectam de forma a explorar os limites da imagem digital. No primeiro, o suposto registro de temas cotidianos– a selfie, a vista de sua janela no norte do País de Gales, a relação com o corpo diante do envelhecimento, a pandemia de COVID-19, a visita aos principais museus britânicos– se transfigura em um espaço de embate e reflexão crítica, que tensiona as dimensões do real ao questionar sua banalização. No segundo, tal banalização é retomada através de imagens nas quais a ressignificação do real conduz a uma dissolução das fronteiras entre o registro e seu simulacro, a autoria e a sua negação, o real e o imaginado, a selfie e o espelho partido.

No dia 29 de junho, haverá sessão gratuita, às 17h, na Cinemateca Brasileira com filmes experimentais de Gane: Earthlight (1969) e Nodnol (1971). E um dos filmes brasileiros em que ele atuou como fotógrafo também será programado para esta
sessão.

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