No final dos anos 1970, ao ganhar uma fita cassete de um artista cujas músicas contavam com um dialeto próprio e com uma sonoridade que estabelece um novo paradigma para a música erudita brasileira, o artista plástico Júlio Veredas se viu completamente apaixonado pela obra do músico e compositor Elomar Figueira Mello. Sua aproximação com a obra de Elomar fez com que se iniciasse ali uma série de obras artísticas atravessadas pela musicalidade do músico e que, agora, estão reunidas na exposição Profundus, Sertanus, Incantatus.
A mostra, com curadoria do mestre em artes visuais Allan Yzumizawa, traz aproximadamente trinta obras de Júlio – entre desenho feitos em grafite sobre papel, nanquim sobre papel e aquarela – criadas desde o início dos anos 1980, quando conheceu Elomar pessoalmente -, até 2022. O projeto é realizado com o prêmio Exposição Inédita do PROAC 2022 com apoio do Centro Cultural São Paulo.
Conhecido por uma obra influenciada drasticamente pela música e pela literatura, Júlio conta que os trabalhos apresentados nessa exposição inédita também são influenciados pela poética do escritor João Guimarães Rosa, que reconstrói a imagem do sertão e o universaliza quando transcende o eterno conflito entre o ser humano e o destino que o espera – característica comum com a música de Elomar Figueira Mello.
Sob a perspectiva da busca e exploração do sertão de si mesmo, Júlio Veredas ilustra essa encruzilhada de onde partem e convergem inúmeros caminhos e alternativas que habitam seu íntimo. “O título dessa exposição traz algo do encantamento que flagrei na minha convivência com amigos que vivem na Caatinga”, conta Júlio. “Muitas vezes eles me contavam suas histórias em botecos na beira de estradas e eu contava as histórias do que estava vivendo em São Paulo. Mesmo morando lá por muito tempo, não me sentia um vaqueiro, um catingueiro, e é nessa troca que nossas histórias ganhavam um certo encanto, uma formação de nossas identidades”, completa o artista.
“Quando vi pela primeira vez os desenhos desse malungo Julio Veredas, gostei muito, pois vi desenhos de algumas estrofes minhas e centenas dele. Vi que retratava a própria vereda que sua alma bonita percorre. Ao contemplá-los, consigo ver como que em sonhos fragmentos de momentos das paisagens que minha alma viu antes de nascer, assim como também ouço o prenúncio, apenas aurora mágica que anunciam a impossibilíssima ressurreição de uma daquelas perdidas e distantes tardes da infância”, diz Elomar Figueira Mello.