José Roberto Bassul | Referência Galeria de Arte

A Referência Galeria de Arte inaugura a mostra “Sobre quase nada”, do fotógrafo José Roberto Bassul. Com curadoria de Marília Panitz, a exposição apresenta 36 imagens de duas séries inéditas: “Poéticas mínimas” e “Quase nada”.   Fragmentos de edificações modernas e pós-modernas destacam o inusitado no espaço comum e resultam em quase abstrações. Ao abordar a arquitetura de forma crítica e reflexiva, o artista procura “desenhar pensamentos, projetar desejos, construir espaços para a imaginação. A mostra fica em cartaz até o dia 11 de abril, com visitação de segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábado, 10h às 15h. A entrada é gratuita e a classificação indicativa é livre para todos os públicos. A Referência Galeria de Arte fica na 202 Norte Bloco B Loja 11 – Subsolo, Asa Norte, Brasília – DF. Telefone (61) 3963-3501.

Bassul afirma que fotografa a arquitetura na tentativa de desenhar pensamentos, de projetar desejos, de construir espaços para a imaginação. “Poéticas mínimas” apresenta um recorte operado pelo artista quando olha a arquitetura modernista que define a cidade onde vive. Já “Quase nada” traz um mergulho (para o alto) na arquitetura pós-moderna das grandes superfícies espelhadas, que apreende com seu olhar de viajante. “No espaço expositivo, as obras parecem criar duas possibilidades  aparentemente opostas de abordagem: uma que pressupõe deixar-se penetrar pela quase invisibilidade de cada imagem, absorvidos que somos por sua discreta veemência; e outra, oferecida pela visão do conjunto, forma incidentalmente uma espécie de escrita pictográfica, que transforma a (quase) abstração da imagem em um (quase) tratado sobre o exercício de (re)ver a mesma paisagem urbana como descrição inusitada daquilo que, de tão visto, torna-se invisível aos nossos olhos”, afirma a curadora Marília Panitz.

As fotografias da série “Poéticas mínimas” são singelas. Contrastam com o mundo em que vivemos, saturado por imagens de cores vibrantes, apelos consumistas e signos hedonistas de realização pessoal. Buscam refúgios visuais na paisagem urbana, também poluída por excessos. Não por acaso, concentram-se em edifícios de linguagem modernista. De sentido estético e ético, o modernismo pautava-se pela economia de formas e de meios. Guiava-se por uma utopia político-social de caráter coletivo e universalista. Na pós-modernidade, ao avesso, convivemos com a ressurgência dos nacionalismos xenófobos, com a exacerbação do consumo predatório e com a disseminação do individualismo e da ostentação. Minimalista, com poucos elementos geométricos expressos em cores esmaecidas, “Poéticas Mínimas” toma a arquitetura como objeto fotográfico para evocar a necessidade de pausas e silêncios. Para valorizar o vazio como instância de reflexão, como espaço de conscientização crítica no contrafluxo das torrentes imagéticas. Na síntese de David Le Breton, “ficar em silêncio e o caminhar são hoje em dia duas formas de resistência política”.

Na era do consumo e do individualismo, a arquitetura tem sido concebida pelas corporações como espetáculo, como imagem que afirma poder e determina relações sociais. A série “Quase Nada” consiste em representações abstratas dessa arquitetura contemporânea. Frações quase irreconhecíveis de edifícios notáveis articulam singelas composições geométricas. Tomadas em diferentes cidades, cada fotografia é o resultado de apenas um frame, sem nenhum acréscimo ou justaposição em processos de pós-produção. Os efeitos visuais são obtidos tão-somente pela busca de ângulos incomuns, com o propósito de reduzir ao mínimo os elementos expressivos das edificações.

As imagens resultantes aludem ao minimalismo tanto como linguagem visual quanto como atitude crítica em relação à “sociedade do espetáculo” (Guy Debord) em que vivemos. Em resumo, ao despir edifícios pretensiosos de sua representação simbólica, “Quase Nada” pretende contrapor-se à arquitetura como signo de poder.

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