Durante o ano de 2015, o artista pernambucano José Paulo viajou por três municípios do interior do estado (Belo Jardim, Petrolina e Garanhuns), num projeto intitulado 3 Cidades, que contou com oincentivo do Funcultura e com o apoio do Sesc Pernambuco. Em cada uma dessas localidades, o artista fez pouso, realizou uma pesquisa, que depois deu origem a uma mostra em cada uma delas. Nesse processo, ele contou com o olhar da crítica Clarissa Diniz, que atuou como curadora do projeto. Agora, o público recifense poderá conferir esses trabalhos recentes de José Paulo, produzidos para as exposições O Pinguim e o Jardim de Palmas, (Belo Jardim), O Sol Estranho (Petrolina) e Saudade Danada (Garanhuns) na mostra 3 Cidades.
Nascido no Recife, José Paulo sempre se interessou pela cultura de outras regiões pernambucanas e vem, há muitos anos, explorando materiais e técnicas populares artesanais em sua produção, a exemplo da cerâmica. Essa vivência no agreste e sertão pernambucano estimulou ainda mais seu processo de criação, colocando o artista em contato com os contextos e as sabedorias daquelas localidades, ampliando perspectivas e fazendo brotar novas abordagens. “A viagem nos convoca a inventar aquilo que nos é estranho, levando-nos a recriar, por outro lado, também aquilo que nos é comum. Não à toa, artistas sempre vislumbraram, nas viagens, um potente exercício sensível, fazendo do ato de viajar um inquietante processo de criação. É o que fez José Paulo no projeto 3 Cidades, quando se propôs a percorrer Belo Jardim, Petrolina e Garanhuns ao longo de um ano, lançando-se em experiências que alimentaram ideias, reflexões, obras”, escreve a curadora Clarissa Diniz.
Segundo o artista, a escolha das três cidades se deu em parceria com o Sesc Pernambuco, pensando nos espaços expositivos disponíveis e também na maior abrangência territorial possível. Em Petrolina, o artista viveu uma imersão de pouco mais de uma semana, já nas duas cidades do agreste fez visitas diversas, nas quais passava três ou quatro dias e posteriormente retornava. “Não chamaria de residência, mas ao longo dos anos venho realizando vários deslocamentos a lugares fora do meu percurso usual. Sempre procuro achar referências e novos fazeres para meu trabalho. percurso usual. Sempre procuro achar referências e novos fazeres para meu trabalho. Na época de O CORGO, fizemos diversas viagens. Depois, sozinho continuei essa busca”, pontua o artista, lembrando o grupo composto por artistas como Maurício Silva, Dantas Suassuna, Rinaldo, Christina Machado e Joelson que estava focado na cerâmica em Pernambuco.
Foi o vídeo Labirintos Caruaruenses, apresentado em Garanhuns, que, de algum modo, segundo o artista, norteou o projeto. Gravado na Sulanca, em Caruaru, num dia que não havia feira, acentuando o vazio, o deserto, num tom nostálgico. Para a curadora Clarissa Diniz, salta aos olhos, nas obras apresentadas, a estratégia de lidar com aquilo que já existe de forma menos habitual. “É o que faz, com poesia e força política, José Paulo no vídeo Labirintos Caruaruenses, do qual a Sulanca fechada, desabitada e, ainda assim, pulsante, é protagonista”, escreve a curadora. Complementando a exposição na cidade do agreste meridional, o artista apresentou Saudade Danada, uma mala-secadora de carne, objeto que intitulou a mostra. “Com certo humor, o artista metaforiza a dimensão cultural que levamos conosco mesmo nos mais distantes deslocamentos, aspecto tão caro ao nordeste, há tanto tempo e ainda repleto de histórias e marcas da migração”, complementa Clarissa Diniz.
Em Belo Jardim, José Paulo criou a fotografia O Pinguim e o Jardim de Palmas. Na imagem, o artista provoca uma estranheza ao colocar a figura do animal de terras gélidas, numa plantação cuja imagem nos remete a secura do sertão nordestino. Ao fazer a relação de dois ecossistemas tão díspares, o artista propõe, segundo a curadora, uma visão cosmológica que nos adverte das conexões existentes mesmo entre o que é aparentemente diverso. Na cidade, ele também observou a arquitetura e as formas de utilização dos espaços públicos, bem como os materiais utilizados. A partir dessa observação recriou outros arranjos desses elementos, desenvolvendo um jogo de mobiliário.
Já em Petrolina, José Paulo trabalhou com a instalação O Sol Estranho, na qual propõe uma experiência com a luz e o calor do sol. “Da intensidade da luz de Petrolina surgiu esse pequeno cosmos de luz elétrica e melancias que precipita questões sobre a perspectiva do homem diante do universo. O caráter serial e a justaposição de elementos de naturezas tão díspares fazem, de O Sol Estranho, uma alusão à esquizofrenia de uma sociedade que, ao mesmo tempo em que busca controlar e restringi a presença do sol, precisa também emulá-lo constantemente para savalguardar a vida”, detalha Clarissa Diniz.
O projeto 3 Cidades vem na sequencia de um outro, intitulado Cidade Caiada, que foi um manifesto contra a ordem urbana dominante no Recife. “Quis trazer a discussão da ocupação urbana e territorial da atualidade. Vivemos um período bastante crítico, onde uma parte consciente da sociedade luta contra um projeto de cidade ultrapassado e desumano, escravo da especulação imobiliária. 3 Cidades veio logo depois. Quando comecei a visitar as cidades escolhidas, estava com meu olhar voltado para a questão urbana”, finaliza José Paulo.
As informações contidas na agenda são de responsabilidade dos museus e galerias e não representam a opinião da Dasartes.
José Paulo | Amparo 60
- Recife
- 01/09/16 à 07/10/16
- Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira, Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira das 09:00h às 19:00h
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