Jose Antonio da Silva | Galeria Almeida e Dale

“A arte existe porque a vida não basta”
Ferreira Gullar
“Confesso que sou artista puro e verdadeiro. Sou criador e tenho que pintar o mundo, goste ou não goste. Sinto a minha alma mexer dentro de mim.” As palavras sintetizam a luta de José Antonio Silva para se estabelecer como pintor e sua busca estética, que gerou uma obra diversa: dionisíaca, solar, panteísta, fauve, naïf, que o público poderá ver, a partir de 11 de fevereiro, na galeria Almeida e Dale, na mostra José Antonio da Silva – A vida não basta, com curadoria de Denise Mattar.
A exposição reúne mais de 50 obras que compreendem quatro décadas de produção artística, desde o final dos anos 1940 até meados dos anos 1980, trazendo um recorte que mostra a evolução e a diversidade da obra desse artista que produziu, ao longo de sua vida, mais de 5 mil obras, o que faz dele um dos artistas mais produtivos da história brasileira.
Nascido em Sales de Oliveira, no interior de São Paulo, Silva começa a desenhar, ainda menino, sobre matérias-primas do campo, como folhas, pedaços de sacas de café e areia. De origem pobre, recebe pouca formação escolar e começa a trabalhar muito cedo para ajudar a família que não compreende – via como loucura – a veia artística do garoto.
Casado, aos 21 anos, Silva muda-se com a mulher e os filhos para São José do Rio Preto, onde começa a exercer uma série de atividades, de garçom a coveiro. A luta pela sobrevivência não o impede de desenhar e pintar. Ao contrário, o estimula a criar uma vida além daquela em que vivia.
Sua descoberta como artista acontece em 1946, quando participa do concurso promovido pela Casa de Cultura de São José do Rio Preto, cidade onde vive. Apesar de não vencer o concurso, Silva desperta o interesse dos críticos de arte Lourival Gomes Machado e Paulo Mendes de Almeida, que veem na sua obra a genuína expressão da cultura rural brasileira.
A descoberta permite o início de uma nova vida a Silva. O artista expõe, em 1948, em sua primeira individual, na então recém-inaugurada Galeria Domus, e participa da I Bienal Internacional de Arte de São Paulo, em 1951.
O artista passa, então, a conviver com dois mundos: aquele de suas origens – rural, pobre, duro – e o mundo das artes – sofisticado, cosmopolita, diverso, repleto de ideias e estéticas distintas. A experiência marcará sua vida e obra para sempre.
O caráter soturno das paisagens rurais de obras como Caçador e Casebre e Paisagem rural e trabalhadores com enxadas, ambas de 1948, e domésticas – O médico da roça (1948) e Flagrante de adultério (1950) – que, à sua maneira, revelam a dureza de um pai de seis filhos lutando pela sobrevivência, vão se diluindo, ao longo das décadas seguintes, em novas técnicas e uma paleta de cores mais alegre e diversa. Campos plantados com bananeiras (1956) e a série Algodoais, dos anos 1970, ilustram a nova paleta do artista e sua evolução técnica, após entrar em contato com obras de artistas como Van Gogh e Picasso. Nos algodoais pode-se ver o auge de sua evolução técnica, a partir da pintura em pontilhismos.
Nos anos 1950 e 1960, já influenciado pelos artistas que passa a ter contato, o artista cria obras de cunho religioso, que revelam forte caráter dramático, e as séries das águas, que se estendem até os anos 1980 e mostram um forte caráter poético. Duas obras revelam claramente essa identidade: Casa com bois na chuva (1953) e Igreja na chuva (1982).
Nos anos 1970, já vivendo sua explosão cromática, o artista cria uma série de obras que retratam o Rio de Janeiro, como Corcovado (1976), Guanabara Rio (1979) e Ponte Rio-Niterói (1992).
“O José Antonio da Silva é um artista de uma capacidade criativa e de imaginação descomunais. A exposição traz um recorte de tudo que ele produziu. São mais de cinco mil obras, que mostram a capacidade de fantasia que ele tinha e essa pulsão criativa. A vida para ele não bastava. Ele precisava de uma vida a mais. E a encontrou na arte”, afirma a curadora Denise Mattar.

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