Isabela Couto | Museu Nacional da República

No dia 29 de abril, sexta-feira, a partir das 19h, o Museu Nacional da República em Brasília inaugura a mostra individual “Guardadora de água”, da artista visual Isabela Couto. Com ensaio poético de Mar Becker, a exposição apresenta a produção inédita da artista em vídeo e aquarela que tratam da paisagem e do deslocamento entre Santiago do Chile e Praia do Forte, Distrito da Mata de São João, no litoral norte da Bahia. A mostra fica em cartaz na Galeria Térreo, Piso Térreo, do Museu Nacional da República, em Brasília, até o dia 26 de junho, com visitação de terça a domingo, das 9h às 18h30. A entrada é gratuita e livre para todos os públicos.

Em “Guardadora de água” – título inspirado no poema “O guardador de água”, de Manoel de Barros – Isabela Couto apresenta trabalhos em que a sugestão dos elementos água e névoa é uma constante. Tanto as aquarelas como os vídeos foram produzidos durante uma viagem entre a capital chilena e a Praia do Forte.

Entre oceanos

As aquarelas partem da observação da Cordilheira dos Andes e seguiram para a observação de edredons sobre a cama, que figuravam montanhas domésticas. “As obras iniciadas com o título Paisagem de cobertor surgem da observação da natureza sob viés doméstico. Cada uma dessas aquarelas se relacionaria com um cômodo da casa: Paisagem de cobertor: o quarto; Paisagem de cobertor: sala de costura; Paisagem de cobertor: amontoado ao pé da cama; Paisagem de cobertor: piscina; Paisagem de cobertor: quintal”, afirma a artista.

 Os vídeos apresentados tiveram como ponto de partida o trajeto do corpo em envolvimento horizontal com o entorno. A cultura ocidental tem por tradição a segregação do ser humano com a natureza e buscou-se o inverso na captura dos fragmentos de paisagem. O vídeo Maré dançando sedimento sobre areia oferece protagonismo da maré ao mostrar os desenhos com sedimentos orgânicos por ela executados sobre a areia. O vídeo Inventar países trabalha com a miniatura para reformular paisagens em que o humano se apresenta como um aspecto secundário à imagem. Os vídeos têm como referência paisagens orientais tradicionais, em que o ser humano e o entorno não disputam hierarquias, mas se complementam.

Irmanadas pela água

Num ensaio poético intitulado “Nem a nuvem do dizível”, Mar Becker reverbera a obra de Isabela Couto, sobretudo as aquarelas de Paisagem de cobertor. Para a escritora, é pela imagem da água que seu trabalho se irmana ao de Isabela Couto. Digo “imagem”, mas a verdade é que nisso tateamos ambas muito mais aquilo que se recusa à cena, o que foge às mãos e não chega a ter contornos… São projetos de dissolução, afinal – algo próprio do aquoso (e do aquarelado)”, ressalta.

“Do mesmo modo, me parece que beiramos também sempre um perigo de perda de si: afinal, no dilúvio, os corpos podem erodir e se confundirem uns aos outros, a casa e as mulheres (tanto eu quanto ela trabalhamos muito com intimidade de mulheres, meninas) podem vir a se tornarem lodosas, indiscerníveis, e o próximo passo é a impossibilidade de nomear e a fundação de uma imensa mudez. Daí o título, Nem a nuvem do dizível”.

Sobre a água, Mar indica: “é sorrateira, infiltra-se fácil. Está nos quartos, nas cozinhas. Nos banheiros. Essa ameaça tão íntima de nós, tão familiar – sempre em vias de apagar o que vemos, o que dizemos –, é nela que tocamos eu e Isabela”, completa.

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