De 22 de março a 29 de junho de 2025, a Casa de Cultura do Parque apresenta seu I Ciclo Expositivo que reúne obras que desafiam as tradições da pintura, fotografia e produção têxtil. A mostra coletiva O fiar – pontos, nós, corte ocupa a Galeria do Parque enquanto Disparate, de Helena Martins-Costa ocupa o Gabinete e Boca do mundo de Fábio Menino é apresentada no Projeto 280X1020.
A exposição coletiva O fiar – pontos, nós, corte, com curadoria de Claudio Cretti e texto de Diego Mauro, celebra a diversidade das artes têxteis por meio do trabalho de cinco artistas. Utilizando bordado, tricô e costura, as obras exploram a interação entre o plano e o espaço, o controle e o acaso e o gesto como linha do tempo, onde cada ponto e nó são vestígios e instantes de criação, revelando a materialidade do tempo em tramas e texturas.
João Modé (Resende, RJ, 1961), com seus “Extensores”, cria pontes entre materiais e pessoas, tecendo conexões no espaço expositivo. Soffia Lotti (Poços de Caldas, MG, 1991) transforma álbuns digitais em topografias de lã, explorando a tensão dos nós. Daniel Albuquerque (Rio de Janeiro, RJ, 1983) apresenta tricôs escultóricos, dobrados com afeto, que interagem com o espaço e incorporam quartzos, como um gesto de cuidado.
Já Marina Weffort (São Paulo, SP, 1978) com domínio do voil, esculpe sutilezas através da restrição e do movimento. E, por fim, Madalena Santos Reinbolt (Vitória da Conquista, BA, 1919 – Rio de Janeiro, RJ, 1977) evoca memórias em tapeçarias vibrantes, com figuras humanas e de animais. A artista tem obtido crescente visibilidade, como demonstrado em sua mostra individual realizada no MASP, em 2023, e sua primeira exposição no exterior, no American Folk Art Museum, em Nova York, este ano.
Em Disparate, mostra apresentada no Gabinete, Helena Martins-Costa (Porto Alegre, RS, 1969) manipula fotografias de arquivo e frames de vídeo, decapitando figuras, criando novas anatomias e utilizando o preto e branco para conferir um novo significado a imagens do passado. As figuras quadrúpedes, que a própria artista define como “monstros”, remetem aos horrores grotescos de Goya – mestre da luz e das trevas, nas palavras de Charles Baudelaire – borrando a linha entre real e fantástico.
A opção pelo preto e branco “injeta efeitos perturbadores, põe em xeque os automatismos da visão, modifica a estrutura das imagens, além de reduzi-las à gama cromática original da fotografia”, comenta Annateresa Fabris, que assina o texto de apresentação. Neste sentido, Martins-Costa transforma a fotografia em prática autorreflexiva, desafiando o observador a “olhar muitas vezes para essas imagens inquietantes e confrontar o estranho aninhado dentro de cada um de nós”, finaliza.
Já em Boca do mundo, apresentada por Fábio Menino (São Paulo, SP, 1989) no Projeto 280×1020, traz pinturas que desafiam a representação convencional de objetos cotidianos. Estes últimos, frequentemente ferramentas de trabalho, ganham uma nova dignidade, revelando relações sociais e uma visão humanizada do mundo industrializado. A combinação de óleo e cera de abelha confere às telas um caráter rústico, em contraste com a estética contemporânea predominante.
“As coisas não aparecem nas pinturas de Fábio Menino como se estivessem no mundo. Pairam verticalizadas e centralizadas no espaço difuso, por vezes são manipuladas por figuras humanas anônimas e envoltas por um halo de luz própria que enfatiza a planaridade das superfícies pintadas”, comenta José Bento Ferreira, que assina o texto da exposição.
Ainda como parte da programação será apresentada a performance Comum entre nós :: Silêncio o espaço tempo de resistência e resiliência, de Dudu Tsuda, durante a abertura das exposições no dia 22 de março, às 16h. A obra explora a interdependência e a conectividade por meio de cinco corpos em contrapeso, unidos por um tecido vermelho, que criam desenhos dinâmicos, refletindo um “comum” construído por memórias fragmentadas. Inspirada no conceito japonês “Ma”, a ação utiliza o silêncio e o tempo suspenso como práticas de resistência e busca, por meio de um equilíbrio metaestável, composições visuais únicas, conectando ancestralidade e identidades.
As mostras têm direção artística de Claudio Cretti, idealização do Instituto de Cultura Contemporânea (ICCo) e sua realização conta com o apoio do Ministério da Cultura, por meio da Lei de Incentivo à Cultura. Os eventos do I Ciclo Expositivo 2025 contam com o apoio de Interfood, Casal Garcia e Jägermeister.