HORIZONTE CERRADO: VIVER NO CENTRO DO MAPA | CENTRO CULTURAL JUSTIÇA FEDERAL

Exposição no Centro Cultural Justiça Federal apresenta um panorama da poética do Cerrado, a partir da coleção de Sérgio Carvalho, ao mesmo tempo em que estabelece conversas-embates entre obras que configurem este universo que o centro excêntrico (em relação ao mapa cultural brasileiro) produz como discurso visual e estético. Com curadoria de Marília Panitz, a mostra que reúne cerca de 140 obras de mais de 40 artistas, será inaugurada no dia 25 de janeiro.

O Bioma Cerrado é o segundo maior da América do Sul. As modernas capitais dos estados abarcados pelo bioma vão tendo que se haver com a potência da ancestralidade em seus entornos. Cada vez mais, os habitantes desses centros, e em especial aqueles cujo matéria prima do trabalho é a poética, lançam mão da natureza e da cultura ao redor, um redescobrimento que deixa sua marca na produção artística e na ação política de declarar suas especificidades em relação a outras regiões. E suas semelhanças.

A proposta desta mostra é estudar, dentro da Coleção Sérgio Carvalho, os indícios de tal hipótese. Sérgio é um colecionador de arte contemporânea brasileira, com um acervo que contempla todas as regiões do Brasil. Mas, talvez por viver em Brasília, tenha um documento dos mais interessantes da produção artística – do final do século passado e das duas primeiras décadas deste em que vivemos –, no centro do país.

Com obras que abrangem as últimas décadas do século XX e as duas primeiras deste século, Horizonte Cerrado reflete a potência artística de uma região que, embora geograficamente central, é culturalmente excêntrica. Ao reunir produções dos estados do Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal) e regiões limítrofes de Minas Gerais e Bahia, é possível traçar um mapeamento cultural que transcende fronteiras geopolíticas. O Cerrado, enquanto espaço físico e simbólico, influencia não apenas os que nasceram ali, mas também aqueles que, por escolha ou destino, passaram a habitá-lo, reinterpretando sua força e beleza em diversas linguagens artísticas.

A EXPOSIÇÃO

A mostra apresenta-se distribuída em cinco salas.

Sala 1 – Na linha contínua da paisagem, o que permanece…

A ideia de paisagem é percorrida por suas diferentes abordagens. Pode ser uma operação de recorte do elemento que a define, a pedra, em uma experiência de não assentamento, ou de pouso na superfície geométrica de cor – quase um inventário –, ou o relato do cotidiano, ação banal tornada poética. Pode figurar a visão do passageiro que percorre a distância da mata ao cerrado e à cidade futurista, em imagens em movimento que são quase abstrações ou a composição de horizontes oníricos, cujas personagens se perdem na imensidão ao redor. Ou pode mergulhar nos elementos que à compõem, experiência física de diluição no lugar ou decodificá-la através da tela, quase inexistente, como alusão à distopia.

Artistas: Dirceu Maués, Fernanda Azou, Gisele Camargo, Irmãos Guimarães e Ismael Monticelli, Marcos Siqueira, Pedro Gandra.

Sala 2 – Entre traçados, anotações e costuras

O traço aqui se impõe como desenho, não importando em que linguagem as obras são concebidas. O traço anota o pensamento, anota o lugar, deriva nas possibilidades da figuração, ganha o espaço tridimensional para se inscrever. E na criação dos trabalhos, apresenta certas questões, ou narrativas. É na justaposição, nos recobrimentos e nas emendas que o sentido se apresente para o olhador. Como se a linguagem fosse tomando para si todos os vestígios dos olhares, dos objetos, dos movimentos… Reaproveitamentos do mundo. O que já foi, continua presente nas transformações das coisas?

Artistas: Athos Bulcão, Elder Rocha, Evandro Prado, Helô Sanvoy, Luiz Mauro, Miguel Ferreira, Raquel Nava, Rava, Virgílio Neto.

Sala 3 – Chão de terra, céu azul, chão de concreto

Camadas de tempo vão se sobrepondo. O novo inventa uma história fictícia para estabelecer sua hipótese, aposta em um futuro como abandono do passado. Mas a raiz se impõe. Entre a construções, cresce a vegetação que retoma sutilmente o seu espaço. O cerrado dormita a cada ano, parece morrer, mas retorna à primeira chuva. A cultura se modifica e segue aprendendo com a inovação para seguir viva. Sob o imenso céu azul do centro do Brasil – sempre o mesmo – a história se faz inscrita na paisagem. O concreto se desenha sobre o chão mais antigo do país. E passamos a fazer a arqueologia das coisas, com os olhos entre duas direções.

Artistas: Adriana Vignoli, Alice Lara, David Almeida, Florival Oliveira, Isadora Almeida, João Angelini, Karina Dias, Luciana Paiva, Ludmilla Alves, Marcelo Solá, Matias Mesquita, Pedro David, Pedro Ivo Verçosa, Wagner Barja.

Sala 4 – Das reminiscências do agora

Há algo que atravessa as terras antigas. Uma disposição de ver o invisível. Às vezes por fé, outras por atualização da memória através de suas imagens e objetos… às vezes por medo. Há ainda aquilo que se forja pela metaforização da vida comum, um certo mergulho no fantástico, E há a conjugação das palavras com as figuras. No encontro entre ancestralidade e projeção do futuro, o imaginário se manifesta. Toda imagem transcende sua função rotineira, tudo se desloca no universo das coisas.

Artistas: Andrea Campos de Sá e Walter Menon, Antônio Obá, Coletivo Três Pe, Derik Sorato, Léo Tavares, Valéria Pena Costa.

Sala 5 – O comum extraordinário: subversões

E a vida comum pode ser extraordinária, a depender do viés do olhar que a captura (?). a forma de descrevê-la pode torná-la experiência única, muitas vezes improvável, outras insuportável. Afinal, a naturalização do que ocorre com a sociedade provoca a banalidade. É preciso visão poética e visão política. É preciso subverter a ordem que não pareça ter sentido. E muitas vezes, é necessário inventar a realidade para poder produzir a mudança. As imagens aqui presentes são figurativas, algumas realistas. Os eventos são reconhecíveis, mas…a partir daí tudo é deslocamento, tudo é estranhamento. Como deve ser.

Artistas: Bento Ben Leite, Camila Soato, Fabio Baroli, Pamella Anderson.

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