O Museu de Arte da Bahia inaugura as exposições Guerra do Soldado sem Razão e O Éden Pagão. O projeto reúne a produção artística de Fábio Magalhães com 60 obras inéditas desenvolvidas entre 2022 e 2024. As mostras têm curadorias de Tereza de Arruda, Alejandra Muñoz e Thais Darzé, respectivamente. O evento de abertura conta com lançamento de um livro-box que reúne os textos curatoriais, imagens das obras e narrativas poéticas do artista.
As exposições marcam um momento significativo na trajetória do artista Fábio Magalhães. Seu processo criativo, potencializado pela pintura, atinge superfícies de objetos tridimensionais e alcança o espaço arquitetônico. Propõe um alargamento do seu pensamento poético em direção às críticas e reflexões sobre a história, à realidade atual e a nossa responsabilidade para o futuro. A mostra convida às pessoas a transitarem entre as ideias contundentes de cada objeto, cada imagem, cada instalação e reflexões curatoriais e poéticas das obras.
Em Guerra do Soldado sem Razão, novamente o significado dos brinquedos é usado para abordar assuntos controversos e delicados, nada infantis. O artista escolhe elementos que atravessam a inocência e introjetam o desejo de destruição, como os soldadinhos de chumbo e plástico, imersos em trincheiras em carne viva ou acéfalos. Como vidas humanas se tornam brinquedos nas mãos dos ‘Senhores da Guerra’? Para a curadora Thaís Darzé, “no conjunto de pinturas e esculturas, o artista utiliza o brinquedo para representar o soldado, tencionando os conceitos de diversão, infância, violência, poder e morte. Os limites entre violência e infância são encurtados, deflagrando contornos sociais, de modo a definir quem pode brincar e viver, em oposição àqueles a quem essas ações são negadas. Também nos damos conta de que vivemos em um mundo que cultua a guerra e a violência, onde elementos bélicos são associados a diversão e infância numa perspectiva histórica, em que a inocência não é permitida. O artista, ao resgatar brinquedos da própria infância, reaviva memórias lúdicas que ultrapassam as barreiras da brincadeira para tocar nas duras realidades da vida, criando um verniz imagético para suas obras.”
Já em O Éden Pagão, o artista explora conceitos sobre o desejo de vida e a pulsão de Eros. Em fotografias e objetos recorre aos bichos de pelúcia para aludir à sexualidade humana e ao erotismo, evocando um jardim das delícias pagão. A curadora Alejandra Muñoz aponta que: “Esta exposição é uma instância de tensionamento entre a ideia de um paraíso terrenal idílico e a inesquivável realidade da nossa natureza humana, parcialmente cerceada pela moral religiosa. A arte nos oferece um local de perfeita felicidade, um Éden coerente com o que somos enquanto humanos. Sem juízo moral, sem lógica de punição, sem alternativa de redenção pelos nossos desejos reprimidos. As fisionomias das criaturas desse Éden passivamente atiçam os impulsos energéticos internos que direcionam nossos comportamentos preestabelecidos. E por que não? De modo metafórico, a exposição reivindica o direito às nossas pulsões e não um justiçamento dos instintos. A retórica fetichista da maioria das peças nos impele ao retorno à animalidade supostamente perdida no processo dito civilizatório.”