A Casa Museu Eva Klabin inaugura exposição inédita de artistas que por diferentes maneiras manifestam o inconsciente por meio da arte.
Para marcar a abertura da exposição o colecionador Dimitri Ganzelevitch, curador da mostra, o pesquisador e museólogo Eurípedes Júnior e o crítico de arte e médico psiquiatra Guilherme Gutman, realizam um bate-papo sobre o colecionismo e as questões psiquiátricas e reflexões filosóficas relacionadas às obras expostas. A mediação será da jornalista Leila Sterenberg
“Nise da Silveira, inscrita no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, empurrou para mais longe os limites da loucura. Nas pegadas de Carl Jung, ela deu às pessoas com transtornos psiquiátricos, através da arte, a possibilidade de sair dos labirintos da introversão para começar a se comunicar com o mundo exterior. Hoje, as Imagens do Inconsciente fazem parte de nosso patrimônio cultural”, Dimitri Ganzelevitch
A Casa Museu Eva Klabin inaugura sábado, 29 de julho, a exposição Expressões do Inconsciente na Coleção Dimitri Ganzelevitch e apresenta 27 trabalhos inéditos de cinco artistas que por diferentes maneiras manifestam o inconsciente por meio da arte. A Casa Museu, que foi residência de uma colecionadora, recebe uma exposição curada por outro colecionador, Dimitri Ganzelevitch, marchand e fotógrafo francês, colecionador de arte do inconsciente há mais de 50 anos. Para esta exposição, Ganzelevitch selecionou obras de cinco artistas de seu acervo para ocuparem a sala de exposições temporárias da casa-museu da Lagoa, Rio de Janeiro. Assim como Eva Klabin, Ganzelevitch habita uma casa-museu, a Casa Museu Solar Santo Antônio, em Salvador (BA), que conta com uma coleção de mais de quatro mil peças.
“O convite a Dimitri Ganzelevitch para curar essa exposição surge do desejo de aprofundar um assunto que já exploramos em 2018, quando trouxemos obras de Arthur Bispo do Rosário para a Casa Museu Eva Klabin, mostrando o interesse pela produção de um artista com transtornos psiquiátricos. Trazemos agora um grupo de cinco outros artistas marginalizados, também neurodivergentes, e um caminho diferente para abordar o tema: o olhar de um colecionador”, diz Jose Pio Borges, Presidente da Casa Museu Eva Klabin
Expressões do Inconsciente na Coleção Dimitri Ganzelevitch tem como objetivo tensionar a história da arte estabelecida e amplamente aceita, por meio de trabalhos visualmente irreverentes e desconfortáveis para a arte clássica. Essa tensão se manifesta na escolha de incluir artistas excluídos, seja por condições psiquiátricas ou questões sociais, como raça e gênero.
A mostra traz obras em diversos suportes de artistas, cujos distúrbios resultam em obras fortes e com identidade marcante: Joselito José Santos, Alicio Ribeiro Santos, Raimundo Jorge Falcão, Emma Valle e Eternit. “O escultor Joselito José Santos, de Cairu (BA), surpreende pela carga ancestral africana, diria que atávica, já que se trata de um homem praticamente iletrado com difícil acesso à informação. Os quatro trabalhos de Alicio Ribeiro Santos foram encontrados numa exposição na penitenciária Lemos de Britto em Salvador. Fica bem definida a ânsia pela liberdade. Quanto ao misterioso Eternit, o conheci quando transportava no Terreiro de Jesus, também de Salvador, os três pedaços de compensado num plástico transparente. Após pedir alguns milhões pelas obras, acabou cedendo-as por uma importância mais razoável. Do Raimundo Jorge Falcão, cujas fantasias já foram expostas em Nova Iorque no contexto dos outsiders, apresentamos alguns acessórios usados durante o carnaval. Enfim, temos com as obras Emma Valle, considerada por muitos na Bahia uma das artistas mais fortes do cenário artístico local — sabe-se que ela começou a criar sob a influência do artista argentino Eckenberger — outro trabalho entendido como “fora das normas”. Esta exposição visa ouvir os excluídos da forma mais radical, e nos encorajar a examinar os limites pelos quais uma cultura rejeita algo que será para ela o exterior”, diz Dimitri Ganzelevitch.
Expressões do Inconsciente na Coleção Dimitri Ganzelevitch evoca a arte e a injustiça presente na vivência dos excluídos e, com elas, traz uma instabilidade impetuosa para a casa-museu. Complementa a coleção racional e criticamente estabelecida de Eva Klabin com a produção de obras produzidas por aqueles que se expressaram através do inconsciente e que ainda não foram devidamente validadas pelo sistema de arte, embora sejam igualmente potentes.
No auditório, como complemento da exposição, acontece a exibição do documentário Posfácio – Imagens do Inconsciente, dirigido por Leon Hirszman e Eduardo Escorel. O projeto, que gerou a trilogia “Imagens do Inconsciente”, traz a íntegra da entrevista de Leon Hirszman com a psiquiatra Nise da Silveira (1905 – 1999), fundadora do Museu de Imagens do Inconsciente. O documentário tem exibição de quarta a domingo (a partir do dia 30 de julho).
Para marcar ainda mais a abertura, o colecionador Dimitri Ganzelevitch, curador da mostra, o pesquisador e museólogo Eurípedes Júnior e o crítico de arte e médico psiquiatra Guilherme Gutman, conversam sobre o colecionismo com um aprofundamento nas questões psiquiátricas e reflexões filosóficas relacionadas às obras expostas. A mediação é da jornalista Leila Sterenberg. O bate-papo é realizado das 16h às 17h30, no auditório da Casa Museu Eva Klabin, com interprete de libras. Sujeito a lotação.
Livre e gratuito.