Destaque na edição 2022 da Flup (Festa Literária das Periferias), a obra de Lima Barreto ganha outros contornos no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab), que recebe a mostra “Essa minha letra”, inaugurando uma nova sala de exposições temporárias, chamada Mercedes Baptista.
A curadoria é de Lilia Schwarcz, Jaime Lauriano e Pedro Meira Monteiro, que selecionaram 22 artistas plásticos. Cada um deles exibe uma obra de arte inspirada em textos de Lima Barreto, entre fragmentos de romances, contos e crônicas.
Entre os artistas selecionados estão Wallace Pato, Raul Mourão e Rafael Bqueer. São imagens criadas a partir de textos de Lima Barreto. Reproduções de telas criadas exclusivamente para a exposição, com o fragmento da obra do autor que inspirou a tela, descrito no verso.
“Lima Barreto é o ícone máximo do Modernismo Negro, ele é a maior evidência de que antes de 1922 muitos artistas negros já eram modernistas. A exposição discute a invisibilidade destes artistas para o movimento paulista que ganhou notoriedade”, ressalta Leandro Santanna, diretor do Muhcab.
Segundo ele, a obra de Barreto já trazia inquietações típicas do modernismo, como as reflexões sobre a identidade nacional presentes em ‘Triste Fim de Policarpo Quaresma’ (1915).
“Na narrativa hegemônica sobre a Semana de Arte Moderna de 1922, temos um movimento concentrado em São Paulo e dominado pela elite branca”, comenta Santanna. “Em razão disso, esta exposição pretende deslocar o olhar das comemorações do modernismo para Lima Barreto, por muito tempo esquecido pela crítica e pelo público.”
A coleção realça ainda a natureza irônica, militante e autobiográfica da obra de Lima Barreto, que já naquela época denunciava as mazelas do racismo e as consequências da escravidão.
Após a temporada no Muhcab, as obras serão espalhadas pelas ruas e escolas do Rio de Janeiro.
Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu em 13 de maio de 1881, no Rio, e morreu em novembro de 1922 afundado na miséria e no alcoolismo.