Entre ilusões, magnéticas | Galeria Bolsa de Arte

Evocar o termo ilusão desencadeia percepções múltiplas, conotações contraditórias ou complementares
que levam, pelo raciocínio mais imediato, à sua interpretação romantizada, pueril. São os sonhos
incoerentes, os pensamentos imaginativos e delirantes, as fantasias que despertam um suspiro – limítrofe
ao título de um livro barato.
À margem dessa simplificação, erguem-se definições que esgarçam a riqueza do conceito, recebendo
atenção revigorada na observação freudiana do subconsciente – que em nada remete a um signo de
fraqueza psíquica. Íntima às utopias, a ilusão também pode ser a força-motriz que incentiva as subversões
políticas e sociais. É igualmente ilusória, agora abandonando noções abstratas, a manipulação precisa do
olhar através da técnica, da perspectiva óptica ao trompe l’oeil.
Unindo todas essas simbologias, há um vasto território, intuitivo, magnético.
Em 1920, André Breton publica Os campos magnéticos, obra mater do movimento surrealista ao empregar
processos de escrita automática, produzida por experiências de livre associação, estados de sono hipnótico
ou de discursos instintivos: buscava-se a produção artística isenta de qualquer crivo da razão, alheia à
censura moral. Valoriza-se a incontinência da fala, que não se submete ao filtro que precede a enunciação
– em uma possível aproximação à conjunção de Lacan, para quem o inconsciente é estruturado como uma
linguagem.
Entre ilusões, magnéticas marca o início das comemorações aos quarenta anos de atuação da Bolsa de Arte
de Porto Alegre. Em um exercício de associações afetivas, a mostra não busca um falso semblante de
coesão: o percurso se ordena por campos de influência tão intuitivos quanto conscientes, avança e recua
no tempo, aproxima artistas representados pela galeria, obras de acervo e convida três nomes emergentes
da arte gaúcha para a convivência. É a ideia de magnetismo que conecta imaginários múltiplos, metafísicos
– signos que se atraem e se repulsam em uma constante coreografia.
Henrique Menezes
Curador

Artistas Participantes da Coletiva:
Alex Flemming, Benjamin Petterson, Carlos Vergara, David Ceccon, Eduardo Haesbaert, Elaine Tedesco,
Elida Tessler, Gelson Radaelli, José Bechara, Leandro Machado, Leopoldo Plentz, Letícia Lopes, Luzia
Simons, Saint Clair Cemin, Vera Chaves Barcellos

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