Plantar é um gesto ancestral. Requer tempo e cuidado naquilo que ainda não se vê. Assim também é a arte de Eduardo Ver: ele transforma a madeira em matriz e o papel em terreno fértil. A Casa Fiat de Cultura inaugura a exposição “Semeadura” e apresenta ao público um conjunto de seis xilogravuras do artista paulistano. As obras exploram a riqueza do sincretismo religioso brasileiro, revelando como tradições indígenas, matrizes africanas e o catolicismo europeu se entrelaçam em ritos, festas e devoções que moldam a identidade coletiva do país.
As obras são resultado de um processo criativo que une pesquisa, memória e espiritualidade. Eduardo Ver parte de suas vivências pessoais e de referências às celebrações populares de Minas Gerais, como o Congado e a Folia de Reis, para compor narrativas visuais marcadas por símbolos de fé e ancestralidade. Nas xilogravuras, o olhar do artista encontra imagens de santos católicos, orixás, seres encantados e figuras femininas de poder, que se sobrepõem em camadas de cor, textura e intensidade. O resultado são composições vibrantes, que evocam a pluralidade da espiritualidade brasileira e revelam a força de suas tradições orais e visuais.
A técnica é parte essencial da obra. Eduardo utiliza madeiras como o curupixá em múltiplas impressões, criando sobreposições que dialogam com a própria ideia de sincretismo. Cada impressão adiciona novas formas e cores, produzindo efeitos de densidade e movimento que ampliam o sentido das imagens.

