Edith Derdyk | Casa de Cultura do Parque

Em uma era de crise de discursos, na qual o excesso de informações promove desinformação e desordem, o saber passa por um momento de fragilidade. Os livros, por sua vez, detêm registros importantes da história da humanidade e abrem portas tanto para o passado quanto para o futuro. É neste contexto de ambiguidade que a artista paulistana Edith Derdyk abre suas investigações na mostra Protolivro, em cartaz a partir de 3 de agosto, na Casa de Cultura do Parque.

O neologismo que dá título à exposição evoca a ideia de primeiro, de matriz, do livro que é anterior aos demais. E é este o ponto de partida para os estudos de Derdyk em torno do imaginário que cerca as origens do livro, manuscrito ou impresso, em seu percurso no tempo. “O livro é parte fundante da construção do conhecimento, tanto do imaginário quanto das vontades de futuro. Somos seres de linguagem e remontar as nossas origens, além de ser um fundamento poético, traduz um ato político”, explica a artista.

A mostra, que tem texto de apresentação do artista Fabio Morais, ocupa as duas salas do espaço expositivo da Casa de Cultura do Parque. É um convite de Derdyk a uma experiência imersiva, cuja ideia é oferecer ao visitante a possibilidade de adentrar nas páginas de um grande livro aberto. Através do desmembramento de cada parte – capa, contracapa, orelha, miolo, folha, página, índice, costura, vinco, furo, dobra e cola -, a exposição contempla a sintaxe, a gramática, a arquitetura do livro e suas temporalidades.

“Quando alguém concebe uma obra imaterial cuja materialização é livro – um texto, por exemplo – esse processo funde-se à cadeia de produção […]. Ao desmontar livros e arranjar seus fragmentos em mecanismos sem funcionamento livresco, Edith aciona um funcionamento fabulatório e visual, subvertendo com singularidade a padronizada cadeia de produção gráfica”, comenta Morais.

Protolivro é dividida em dois núcleos, denominados pela artista como Sala Escura e Sala Clara. A primeira é composta de resíduos, fragmentos e componentes que evidenciam as memórias do livro, elementos que evocam a ideia de passado. Aqui, Edith usa livros antigos, objetos marcados pelo tempo, com manchas, vestígios, fungos e mofos, a exemplo da obra Indícios (2019), instalação de nove metros, formada por pedaços de livros desmembrados e estendidos na parede.

Ainda na Sala Escura, em Tábula Rasa (2017/2019), a artista convoca as primeiras narrativas acerca do Mito da Criação. Trata-se de uma obra que reúne, lado a lado, 40 imagens impressas, resultado de sobreposições de registros da primeira página do Gênesis. A artista pesquisou livros em sebos com diferentes edições, línguas e formatos da Bíblia. Manchas escuras tomam as páginas, provocando uma certa ilegibilidade e aludindo a uma espécie de “arqueologia ao avesso”, segundo as palavras da artista.

A Sala Clara propõe uma experiência imersiva, reunindo obras construídas in loco com folhas de papel em branco, linha preta, agulhas, pregos enferrujados e carvão. “O papel em branco abre precedente para o desejo de futuro, um chamado por um livro que está por vir”, reflete a artista.

E o futuro vem com um respiro. Em contraposição aos elementos densos da Sala Escura, carregados de vestígios do passado, Edith oferece ao público um momento de leveza. É o que ela faz em Pulmão (2019), instalação em que usa linhas e agulhas para criar uma espécie de escrita suspensa, aérea.

A trajetória de Edith Derdyk está presente sob vários ângulos na exposição Protolivro. E nada é por acaso, uma vez que a artista também é escritora, educadora e ilustradora.

Durante o período expositivo, a Casa de Cultura do Parque irá promover atividades paralelas à mostra. Para iniciar a programação, no dia 14 de agosto às 19h acontece uma conversa entre os artistas Edith Derdyk e Fabio Morais com o público.

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