Domo Damo | Galeria Filomena

Dando continuidade ao acervo permanente de arte contemporânea do Rosewood Hotel, as exposições da Galeria Filomena também visam celebrar a grande diversidade criativa que pode ser encontrada no Brasil hoje. Para esta exposição convidamos a residência artística paulista Domo Damo, uma iniciativa do colecionador David Laloum com curadoria de David Laloum e Marc Pottier. Recebemos 37 obras dos artistas Amanda Fahur, Lucas Almeida, Poli Pieratti e Yan Nicholas São Thiago, tudos da geração do milênio.

DOMO DAMO

Domo Damo nasceu em janeiro de 2023 da vontade de criar um oásis para artistas, um lugar onde se cria e conjuga num tempo diferente. Num tempo mais lento, com mais espaço físico e mental. Num tempo em que a materialidade tem menos limites, mais possibilidades. Onde a imaterialidade se junta ao pensamento, ao processo, à produção. Domo Damo significa Casa do Amor em Esperanto, língua que tinha como intuito unir o mundo e os povos. Entretanto neste contexto a palavra Domo aqui se refere tanto a lar, no sentido emocional e afetivo, quanto à estrutura arquitetônica arredondada projetada para ter resistência à assertividade dos relâmpagos que atingiam as enormes cúpulas das catedrais romanas.

A residência artística Domo Damo apresenta-se como um novo e pertinente espaço no fomento a criação artística, intercâmbio de ideias e imersão criativa; características incentivadas tanto pelo ambiente colaborativo que estrutura a premissa do programa de residência, quanto pelas ideias comunitárias que norteiam o projeto desde sua concepção.

Pensada como um espaço para sonhar, compartilhar, criar, possibilitar, inventar e refletir as diferentes formas de experimentação artística contemporâneas, tem por objetivo atuar no fomento e divulgação das diversas produções em arte e dos múltiplos agentes do campo da cultura contemporânea. Mostrando-se, portanto, como uma plataforma para produção de debates e pensamento crítico das diversas questões estéticas, políticas e sociais, cruciais ao tempo atual, tanto em âmbito nacional quanto internacional.

Ambientada na primeira casa de arquitetura Brutalista assinada por Paulo Mendes da Rocha – arquiteto premiado com o Leão de Ouro na Bienal de Veneza, Prêmio Imperial de Artes do Japão, Medalha de Ouro do RIBA e o Pritzker em 2006, também responsável pela concepção do projeto do SESC 24 de Maio e da reforma da Pinacoteca de São Paulo, importantes polos de fomento e difusão de arte contemporânea –, a residência e seu programa se equivalem da “verdade estrutural”, característica do movimento arquitetônico Brutalista, para reiterar seus ideais, de forma a alinhá-los com o pensamento filosófico de Paulo Mendes acerca da arquitetura como ferramenta pública.

Neste sentido, busca promover desde sua estrutura, a produção de pensamento crítico, convivência com a diversidade cultural e ampliação dos debates nas mais múltiplas formas do conhecimento artístico, como feitos a sociedade e cultura de forma ampla.

16 artistas foram recebidos desde a abertura da residência. O projeto contribua com eventos internacionais, por exemplo Domo Damo acabou de produzir com as e os artistas da residência a exposição “Magic Echos: Brazil Diasporas Vibrant Encounters with Ancestrality” em Los Angeles, fora o stand da feira Felix que ocorreu simultaneamente com a Frieze LA. Domo Damo colabora numa base regular com M+B em Los Angeles e Casa M+B em Milano.

SOBRE OS ARTISTAS DA EXPOSICAO NO ROSEWOOD HOTEL

Amanda Fahur (1998, Maringá – PR, Brasil) é artista visual, e desde 2016 dedica-se à pintura, desenho, escultura e a pesquisa sobre o universo da abstração das formas orgânicas, da memória e sistemas oníricos. A sua prática flui entre controle e automatismo, com influência de elementos da pintura metafísica e do surrealismo. Atualmente, é mestranda no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU/USP), vinculada à área de concentração de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo, na linha de pesquisa cidade, arte e cultura. Participou de exposições coletivas como mesmo estando separados (2023, São Paulo – SP), Encruzilhadas (2023, Maringá – PR), e 17º Salão de Artes Visuais de Ubatuba (2021, Ubatuba – SP). Possui obras nas coleções públicas da Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP) e Gabinete de Estampas: Departamento de desenhos e gravuras da UNICAMP.

Lucas Almeida (1995) vive e trabalha em São Paulo. Estudou design gráfico e graduou-se em artes visuais na FMU-SP. Em sua obra existe um desejo latente de criar ruídos, contrastes, equilíbrios e desequilíbrios, através da colagem de diferentes tipos de papéis, é possível observar a constante mudança de superfície, assim como o uso de suportes que vão além da tela, como o papelão e o papel Kraft. O trabalho do artista fala sobre humanidade em processos não polarizados, e tenta através da música negra e história da arte compreender o seu meio e de seus semelhantes. Trata-se de um trabalho cíclico, onde uma imagem dá origem a outra e acontece nas intersecções de referências que circundam o seu universo imagético.

Em 2024, participou da exposição FUNK! Um grito de ousadia e liberdade no MAR (RJ), em 2023 participou da exposição Paura na galeria ERA em Milão (IT) e exposição Fetiche Retrato na galeria Nonada (RJ). Em 2022 participou da exposição Pega a visão na galeria Bacorejo (RJ) entre outros.

As obras de Poli Pieratti (Brasilia, 1987, mora hoje em São Paulo) emergem da construção consciente e subconsciente de imagens, pensamentos e emoções. Seu trabalho é motivado pelo desejo de dar formas às memórias, através de pinturas que diluem as fronteiras entre retrato e paisagem, figuração e abstração, composição e distorção – evidenciando os gestos fluidos e efêmeros do mundo. De modo quase imperceptível, surgem aparições: seres, relevos, arquiteturas e biomas que evocam narrativas. Aparecem também símbolos de cura e de força, todos diluídos pela água e pelo tempo. Tudo é movimento. As formas aparecem, mas também desaparecem, em pinceladas que escondem e revelam, com harmonia.

O processo começa em um mergulho demorado por arquivos íntimos e coletivos, pois a artista acredita que as imagens contêm outras, são como grávidas. Pinta para encontrar potências submersas, para ampliar perspectivas, procurando ativamente o seu próprio sentido de lugar e de regresso à casa. Com formas fluidas e paleta própria, desterra os arquivos e improvisa novos horizontes. As telas geram uma atmosfera contemplativa, apesar do caos, da complexidade e do peso do passado. As composições se assemelham a um fluxo livre de consciência, onde diferentes temporalidades convivem para reimaginar os sentidos da vida.

Yan Nicolas São Thiago (Belo Horizonte, Brasil, 1997) explora e reconstrói a representação dos corpos negros na história sociopolítica do Brasil. Ao contrário das narrativas históricas normativas e artísticas que relegam os corpos negros a meras funções ou objetos, o trabalho de Nicolas busca capturar momentos estranhos de descanso, intimidade e auto apropriação. Utilizando imagens de arquivo como ponto de partida, os desenhos de Nicolas concentram-se na figuração negra e na representação das pessoas negras como figuras sempre presentes e caracteristicamente sensíveis na história de sua nação. Sintetizando sua pesquisa de arquivo e diálogo com influências artísticas contemporâneas, a quem ele considera “parentes de referência”, Nicolas une histórias descontínuas e díspares para transmitir uma presença e experiência negras contínuas. Seus desenhos utilizam a interação de luz e sombra de meios monocromáticos para emular a complexa materialidade da melanina como algo tanto experimentado quanto percebido. Compostos em partes iguais com espaço positivo e negativo, as figuras carregadas de grafite e carvão são colocadas em conflito e harmonia perfeitos com fundos de papel branco marcando suas silhuetas.

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