Diego de Santos, Rafael Bqueer e Ruan D’Ornellas | C. galeria

DIEGO DE SANTOS, Expansão 3, 2021

A C. galeria inaugura  a exposição virtual Terra/Céu, com obras dos artistas Diego de Santos, Rafael Bqueer e Ruan D’Ornellas.

Os trabalhos apresentados discutem a terra enquanto um vínculo humano com a sua cultura e seus afetos, onde o direito à moradia, os laços comunitários e a expressão da identidade individual e coletiva são elementos que atravessam a relação com o território. No contraponto, não de oposição, mas complementar, a exposição quer discutir o céu como uma utopia que concede o direito à esperança, em tempos onde o direito ao futuro parecem sucumbir. Trata-se de uma metáfora da resistência pela crença no recomeço a cada novo ciclo.

Sobre as obras

No Ceará, durante os meses de agosto e setembro, a dinâmica eólica chega ao ápice com rajadas de mais de 60km/h. Da geração de energia aos esportes náuticos, a tecnologia vem possibilitando que o vento seja aproveitado como matéria prima para o desenvolvimento econômico, social e cultural, impulsionando o Ceará para o mundo. Nesse cenário, a produção imobiliária só aumenta não somente na capital. Em Caucaia, município da região metropolitana de Fortaleza, onde nasceu Diego de Santos, há um exagero de propagandas em faixas de ráfia, usados como estratégia publicitária para venda de lotes de terra o que transforma a paisagem e o cenário da cidade.

Nos meses em que ventos sopram tão forte, as faixas se arrebentem e desfaçam transformando-as em tufos de fitas coloridas esvoaçantes. Após recolhidas na rua, as finas fitas são coladas por Diego de Santos para criarem composições junto a desenhos sobre sacos de ráfia. O trabalho discute a intensa atividade imobiliária desencadeada pela prática da vilegiatura marítima e pelo turismo litorâneo, desde a segunda metade do século XX, quando se instalam as primeiras residências ocasionais (casas de veraneio) em comunidades tradicionais de pescadores remanescentes de populações indígenas que habitavam as praias caucaienses.

Para Diego, o vento é como um personagem temperamental, profundamente poético e intensamente político.

RAFAEL BQUEER, “Alice”- Chá olímpico, 2016

Em Alice e o Chá Olímpico, Rafael Bqueer desdobra ações de uma série que foram iniciadas em 2014 pela artiste e que resgata a imagem da personagem Alice, interpretada pelo ator Jorge Lafond no desfile da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis assinado pelo Carnavalesco Joãosinho Trinta em 1991. A figura de Jorge Lafond é uma importante referência para pensar questões sobre igualdade, racismo e representatividade LGBTQIA+. Em 2016, com sua personagem Alice, Bqueer registra em parceria com o Museu das Remoções fotoperfomances que foram realizadas na Vila Autódromo, comunidade localizada na zona oeste do Rio de Janeiro, que sofreu com a remoção de seus moradores para a construção de novos instrumentos urbanos para a realização dos Jogos Olímpicos.

A artiste desenvolve em seus trabalhos uma linguagem poética, criativa e desafiadora para refletir sobre as zonas de exclusão social e racial da cidade do Rio de Janeiro. Em suas pinturas, Ruan D’ornellas acena para uma paisagem pictórica que remonta por intermédio de símbolos e signos do imaginário nacional, a arte identitária, a antologia do folclore brasileiro e a filosofia da arte. As  pinturas de D’Ornellas nos convidam a olhar para essa similaridade genuinamente brasileira e, portanto, identitária.

Ruan, para além de cultuar as divindades, aponta nas pinturas, embora como imagens ficcionais, um discurso incisivo que se permite como um contraponto de contos e lendas perpetuados por uma cultura de oralidades que nos alenta.

RUAN D’ORNELLAS, 3 capangas, 2021

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