DENISE VOURAKIS | GALERIA PARANGOLÉ

As heranças dos antepassados são o ponto de partida da exposição Linhagem Cartográfica, de Denise Vourakis. Além de artista, Denise é psicóloga de formação junguiana e escritora. Influenciada por sua própria vivência pessoal, complementada pela experiência clínica, desenvolveu a pesquisa artística que deu origem à mostra. Ao todo, entre instalações, pinturas e cerâmicas são 24 obras. Utilizando técnicas e suportes variados, objetos que fizeram parte de seu acervo pessoal e muitas lembranças, Denise Vourakis passeia por histórias vividas de encontros e desencontros, destinos que se cruzam e travessias que se repetem. “Linhagem Cartográfica” tem a curadoria de Rogério Carvalho.

A narrativa da exposição remete a origens, heranças, rupturas e deslocamentos que muitas vezes são inevitáveis na vida. Vourakis busca salientar um importante aspecto comum da história de cada um: as heranças físicas e emocionais. Reflete que, às vezes, há um desconhecimento do próprio passado, mas ainda assim incide sobre a pessoa uma influência inevitável, demonstrada em comportamentos e destinos inesperados, vocações inexplicáveis, “coincidências”. “É uma observação fascinante e surpreendente. Conhecer este passado tem muita participação na compreensão dos caminhos que percorremos na vida”, revela.

“Assim como a maioria dos brasileiros, também sou descendente de povos que atravessaram o mar, como os europeus, ou que foram atravessados, como os africanos. Existe esse desafio, de mudar de lugar, mas, ainda assim, carregar em si a sua origem. E quando essas origens não são conhecidas, muitas questões podem ficar suspensas”, argumenta.

Na exposição, as referências genealógicas ficam evidentes na série de cerâmicas: “Mares Vencidos, Destino Apaixonado”, “Casamento Grego” e “Rio das Almas”, que remontam à tradição grega de se quebrar pratos. Apesar de não se identificar com nenhuma religião, especificamente, Denise cresceu em ambiente católico, com avós muito devotos e praticantes, o que inspirou o “Móbile: O Passado O Vento Não Leva”, que carrega em fitas de cetim, o nome de algumas de suas antepassadas e mais de 200 medalhas católicas, entre outras. Apesar de vivermos em um país laico, as heranças católicas se encontram presentes em tradições, manifestações culturais e religiosas, influenciando a todos”, acrescenta. Já as pinturas em acrílica, da série “Destino”, mostram as travessias realizadas por seu avô paterno, que deixou o Ceará e navegou até o Rio de Janeiro. Ambos os avôs cruzaram os mares e nunca mais viram os seus pais, seu lugar de origem. Assim como eles, Denise Vourakis não voltou a viver na sua terra natal, mas não foi preciso repetir a sina dos antepassados de se afastar dos pais ou de sua origem. Trocou o mar pela estrada, e encontrou no Goiás, principalmente na cidade de Pirenópolis, um lugar de pertencimento no meio do Cerrado, dando continuidade à imigração, ao deslocamento, que estão no cerne de sua herança existencial.

“Linhagem Cartográfica” embarca no desejo de que cada um compreenda sua ancestralidade e experimente o acolhimento de conhecer suas origens. O convite é para que o público reflita sobre a própria história, na consciência de que ela não começa: ela continua, ela descende. “Na abordagem junguiana, que é na qual atuo como analista, entendemos que muito do que nossos antepassados viveram, passaram, em termos de experiência e até de traumas, influencia na vida de seus descendentes através da criação, por exemplo. Então, ao tomarmos consciência da história familiar, de nossas origens, de nossa herança psíquica, podemos entender certas situações, escolhas, padrões que permeiam nossa existência e, assim, tentar transpor”, explica.

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