Registrar a opressão e a objetificação que, infelizmente, as mulheres sofrem no Brasil desde os tempos da chegada de Cabral até os dias atuais. Em síntese, esta é a proposta que norteia aquelas que teimam, mostra de estreia da fotógrafa Danielle Rosa, que entra em cartaz a partir de 1º de fevereiro, no Centro Cultural Santo Amaro, em São Paulo. A mostra foi contemplada pelo Programa de Ação Cultural (PROAC).
A exposição, que fica em cartaz até 1º de março, reúne 20 fotografias que simbolizam a opressão registradas ao longo de séculos no Brasil, acompanhando momentos históricos, desde o período colonial do País. O ponto de partida do projeto ocorreu quando Danielle Rosa teve contato com a carta escrita por Pero Vaz de Caminha. No manuscrito, o escrivão da armada de Cabral relatava que, durante a primeira missa rezada no Brasil, os homens cobriram com um pano a nudez da única mulher indígena presente.
A partir deste ponto, com o apoio historiográfico da educadora Thaís Carneiro, foram pesquisados materiais publicados na imprensa, leis antigas e literaturas diversas que retratassem momentos infelizes de nossa história, tendo como base a opressão vivida pelas mulheres no Brasil, criando um diálogo com o feminismo contemporâneo.
Assim, a exposição retrata de maneira simbólica, por meio de autorretratos de Danielle Rosa e de registros de quatro modelos, fatos marcantes como a proibição de mulheres de jogar futebol, a prisão de lésbicas em um bar em São Paulo e até mesmo o Código Civil de 1916 (revogado apenas em 2003) que previa que a virgindade da esposa era um direito tácito do marido.
Outros pontos de destaque retratados em “Aquelas que Teimam” são o fato de que somente no ano de 2006 foi criada uma lei que visasse proteger a mulher dos casos de violência doméstica – Lei Maria da Penha – e um antigo anúncio num jornal do séc. XIX, que dizia “Vende-se uma mulata de 38 anos com filho de 3 anos de cor clara e compra-se uma negrinha de 10 a 12 anos. Para tratar a rua Quitanda, nº 20”.
“O objetivo das fotos é contar algumas histórias das mulheres no Brasil. Por meio da simbologia busquei falar sobre a dor e a exploração que as mulheres vivenciaram ao longo dos séculos”, explica a fotógrafa Danielle Rosa.
Danielle Rosa – Trabalha com autorretratos e fotografias conceituais sobre a história das mulheres no Brasil. Formada em cinema pelo Instituto Querô em 2016, fez produção de arte no longa-metragem “Sócrates” dirigido por Alex Morato, premiado nos EUA no Woodstock Film Festival (Prêmio Ultra Indie Award 2018); na Grécia com os prêmios e Menção Honrosa do júri internacional no Thessaloniki Film Festival e no Prêmio Mermaid, do Festival Internacional de Cinema de Salónica.
Dirigiu o curta metragem “Abra esta porta” recebendo os prêmios de Melhor Filme e Melhor Roteiro no 9º Curta Taquary em 2015. Fez direção de arte no curta “Ao redor”, com direção de Isabela Rosa em 2015. Atuou no papel de Capitu no filme “Oblíquo”, dirigido por Victória Andria, inspirado na obra “Dom Casmurro”, de Machado de Assis. Participou ainda, como atriz e bailarina, na camerata de violões “O Grande Circo Místico”, pelo Projeto Guri de Santos em 2018. Atualmente trabalha na Cia Teatro a Bordo, onde viaja pelo Brasil se apresentando em um teatro móvel.