Conversa com Claudia Melli e Marcio de Jagun | Anita Schwartz Galeria de Arte

Anita Schwartz Galeria de Arte convida o público para uma conversa com a artista carioca Claudia Melli e o babalorixá Márcio de Jagun, no próximo dia 28 de abril, às 18h. Artista e curador vão discorrer sobre o universo sagrado afro-brasileiro de matriz iorubá, em diálogo com a exposição É da nossa natureza – individual de Melli curada por Jagun, inaugurada recentemente na galeria.

“Essa exposição é resultado de uma imersão nos símbolos e significados do grupo étnico-cultural denominado nagô/ioruba. Ela trata da circularidade que conecta o ser humano, a espiritualidade e a natureza. Acho importante pensar a natureza como território de conexão com o sagrado”, reflete Melli.

Para Márcio de Jagun, “devotos ou não, somos capazes de ver, ouvir, sentir e nos encantar com a presença dessas divindades, que atravessaram o Atlântico e aqui são respeitosamente invocadas, sutilmente reveladas, dignamente reterritorializadas”.

Márcio de Jagun é advogado, professor universitário e babalorixá do Ilé Àṣẹ Àiyé Ọbalúwáiyé desde 2002. Iniciado no Candomblé há 34 anos, Jagun é conferencista e autor dos livros “Orí – a cabeça como divindade”; “Ewé, a chave do portal”; e “Candomblé: casa de santo, casa da gente”. Desde 2000, milita no combate à intolerância religiosa e contra o clientelismo religioso. Foi um dos fundadores da Associação Nacional de Mídia Afro – ANMA, no ano de 2013, quando foi convidado para as discussões de elaboração do Plano Curricular de Ensino Afro-Religioso da Rede Municipal do Rio de Janeiro.

Sobre a exposição

Claudia Melli apresenta a exposição É da nossa natureza, no térreo da galeria, que reúne uma série de pinturas inspiradas no universo sagrado afro-brasileiro de matriz iorubá. Com curadoria do babalorixá Márcio de Jagun, a mostra reúne nove trabalhos inéditos que transportam o espectador para paisagens que evocam a espiritualidade dos orixás. Orientada por Jagun, a artista compartilha sua percepção desse universo. Sem recorrer a referências explícitas ou figuras humanas, suas obras reafirmam a ideia de que os orixás não são apenas representados pela natureza: eles são a própria natureza.

“Nas palavras da escritora nigeriana Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí, essa forma de perceber o mundo não se resume apenas a um sentido, mas ao conjunto de todos. Por isso, melhor do que se referir àquele sistema como ‘cosmovisão’ (que faz alusão apenas a um deles) a autora propõe o conceito de cosmopercepção, sugerindo uma interação plena, total das sensações”, escreve Márcio de Jagun no texto de apresentação da mostra.

O curador destaca a presença do sagrado na obra da artista: “O divino, por si só, se manifesta no pulsar das cores, nos tons, nos sons sugeridos pelo bailado do pincel”.

É da nossa natureza marca mais um desdobramento da trajetória de Claudia Melli, que vem explorando a passagem do tempo e a natureza cíclica da vida em suas séries. “A natureza é um tema que me acompanha desde o início. Vejo nela uma forma de o ser humano se perceber como parte de um todo, como naquele instante em que contemplamos o pôr do sol ou o mar. Meu processo criativo busca traduzir essa sensação, explorando elementos e fenômenos naturais”, afirma a artista.

A monumentalidade das obras apresentadas na mostra intensifica o seu caráter imersivo e instiga o espectador a ir ao encontro da mitologia iorubá, experimentando sensações que transcendem a imagem: o som da água em movimento, o sopro do vento entre as folhas, o cheiro da terra.

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